sexta-feira, 14 de outubro de 2011

“Amor em Chama” - Capítulo I

Logo que terminou o hino, Tony dirigiu-se à sala dos professores e estatelou-se bastante aéreo no sofá. Mal se presenciara na formatura para o canto do hino nacional e quase que não escutara as orientações do director. A sua mente estivera possessa de imaginações que aquele encontro casual e acidental com Suzy proporcionara. A imagem dela estava a embebedá-lo e o esteve o hino todo. 
Desenrolou o xaile do seu pescoço e desabotoou um degrau da sua camisa. Levantou-se e começou a passear de um lado ao outro da sala e voltou a sentar-se para não chamar a atenção dos demais professores que já começavam a encher aquele lugar. Tomou um livro e abriu-o. 
Os contornos das letras fizeram-no embarcar nas curvas perfeitas da Suzy, no seu olhar sereno e feminino de catorzinha mimada, nos seus lábios entreabertos, roçados por um batom rosa mexendo-se suavemente quando falasse. Fechou-o com precipitação e continuou a percorrer o corpo dela com os pensamentos: as ondulações das suas ancas, perfeitamente desenhadas pela saia do seu uniforme, a frondosidade das suas coxas, claras e atraentes como as outras partes do seu corpo, fizeram-no estremecer de arrepios.
Um desabrochar de gargalhadas fê-lo voltar. Os seus colegas euforizavam-se, sei lá de quê! Consultou o seu relógio e saiu a passos largos, desejando a todos uma boa jornada de trabalho. Percorreu o corredor que dá acesso à secretaria e viu Suzy saindo duma das portas, levando consigo uns papéis em suas mãos.
-- Suzy— gritou ele. 
O coração da Suzy disparou e uma nuvem de pânico envolveu-a. 
-- Por mais estranho que pareça— prosseguiu ele— estive a pensar em ti. 
A voz de Tony estava calma, afinada, forte e intensa. Suzy, não sabia o que fazer e começou a mordiscar as unhas com os dentes.
-- É sério Suzy— prosseguiu ele. 
-- E o que e que estiveste a pensar stor— inquiriu ela sem encará-lo. -- Que podíamos sair para conversar. 
-- Não posso. 
-- Prometo que não te vais arrepender. 
-- É proibido sair com professores, suponho que o senhor saiba disso. 
-- Eu sei, mas não te é proibido fazer amigos e eu só quero ser um deles. 
-- Desculpa stor, não posso. Esta cidade é muito pequena e alguém nos há-de ver. O que quer que pensem de mim? 
-- Ninguém vai pensar nada além do que estivermos a fazer: a conversar. 
-- Stor, não seja inconveniente e não mo obrigue a ser também; por favor entende. 
-- Bom, se preferes assim, tudo bem! Mas te peço que penses com carinho! As palavras de Tony fizeram-na corar, porque no fundo ela queria sair com ele, mas a ideia de estarem os dois a sós é que a atormentava. 
-- Está bem! — Disse ela depois de uma prolongado silêncio deliberativo— encontre-me as 15 na Marginal. 
E virando-lhe as costas evaporou pelo corredor. Tony continuou estático a observá-la. Suzy era tão linda, que Tony se questionava como uma mulher podia ser tão genuína, tão perfeita e tão atraente como aquela que a via desaparecer. Certamente os seus pais tinham-na feito com tempo, numa jornada de amor em chama em que cada carícia ia moldando as feições daquele corpo que o estava a tirar do sério. 
Foi aí que reparou que ela não era alta, devia medir por por aí 1,65 m, tinha cabelos compridos, lisos e naquele dia tinha-os soltos. Os seus olhos eram grandes, salientes e cheios de luz e eram de medida certa para a sua face negra e linda. O seu nariz, comprido e bem ajustado a sua face, dava-lhe um ar semita invulgar. A sua boca era de uma natureza rara, que sugeria saber dizer coisas agradáveis e importantes, coisas que qualquer um poderia gostar de ouvir e lembrar; o seu pescoço, cercado por um colar simples de prata, ajustava-se perfeitamente aos seus ombros bem decotados pela camisa de uniforme metida colegial e educadamente na ajustada saia de uniforme, que deixava visível todas as suas feições aguitarradas:. Suzy era um encanto, e os que a viam, juravam ser a encarnação das musas dos mitos gregos.
Recompôs-se e pôs-se a andar, pois se continuasse aí parado, certamente, alguém o acharia naquela perplexidade. Entrou numa sala onde uma turma da 11ª classe o esperava.
A tarde estava cinzenta e o céu pesado, denunciando uma provável onda de chuva. O vento ruía levezinho, fazendo escassas folhas secas cantarolarem melodias tristes e desafinadas ao se arrastarem lentamente pelos passeios refrescados pelas frondosíssimas acácias centenárias. A baia, pincelada a cor do céu, roncava e vomitava ondas preguiçosas. Do lado da catedral, frades engoliam com gula, enquanto devoravam o rosário, a beldade das mocinhas lindas e gostosas que por aí passavam. Na avenida independência, a principal da cidade, rapazes, esticados sobre os muros, admiravam as coxas quentes e bem esculpidas, pelo advento da mocidade, de rapariguinhas Formosas que por aquelas bandas lenga-lengavam. As mulheres fofocavam. Os homens, uns de cabelo rapado pela idade e outros cheirando à lâmina de barbear engoliam com apetite uns gordos goles de cerveja na banca de Dona Adelaide. As crianças brincavam, os pássaros invadiam o nada. Tony esperava Suzy impacientemente na marginal. 
Uma viatura preta fez-se surgir e Tony sorriu quando viu suzy descer. Vestia-se duns calções curtos, que deixavam nuas as suas coxas claras e atraentes, e duma blusa vermelha, que com os chinelos também vermelhos, criava uma harmonia perfeita. O cabelo estava solto e voava-lhe todo com a força do vento. 
Tony aproximou-se e beijou-lhe a mão com uma singular cortesia.
- Estás muito linda Suzy 
- São os teus olhos stor 
- Por favor, não me chame de stor, aqui somos apenas amigos. 
- Está bem. São os teus olhos Tony. 
- Não são só os meus olhos – e fazendo
-a girar acrescentou – olha como a natureza está espantada por te ver! 
Suzy sorriu 
- Podes dar em um bom poeta – disse ela toda risonha. Caminharam uma centena de passos, enquanto contemplavam o mar e os mangais e, achando um banco, acomodaram-se. Conversaram sobre muita coisa, mas ao certo nada. 
- Então, a quanto tempo estás na cidade? 
- Inquiriu Suzy querendo dar mais interesse à conversa. 
- Há uma semana 
- Hum, És novo aqui!? E o que achas dela? 
- Colorida e cheia de surpresas. Os seus olhos cruzararam-se e Suzy começou a pestanejar sem parar 
- A que te referes exactamente quando falas de surpresas? 
- A tudo: às pessoas, aos lugares, às paisagens e acima de tudo a ti. És uma menina muito especial Suzy e gostei muito de te conhecer. 
- Não te iludas Tony. Pode ser que mudes de opinião daqui a um tempo. O que te faz pensar que já me conheces?
Tony atraiu-a para si e segurou-a pelo queixo 
- A minha opinião sobre ti já está formulada e para mim a primeira impressão é que é válida. 
- Vais te decepcionar – disse ela toda zombante, enquanto tentava se escapulir dos afagos dos braços dele Um bando de pombos aterrou, atraindo-lhes a atenção. A escassos metros da pista aviária, um casal de turistas fotografava e um outro se beijava apaixonadamente. Suzy contemplava. Tony sorria. 
- És casado Tony- rompeu Suzy, tonteada de curiosidade que a ocasião moldou. Tony dilatou o sorriso. 
- Não, mas sonho com isso, basta que encontre a pessoa certa. 
- Um dia vai chegar. 
- Eu sinto que já chegou e está bem ao meu lado. Suzy olhou para ele, perplexa. 
- Não sei a quem te referes, mas só te queria lembrar que quem está ao teu lado é uma das tuas alunas. Tony atraiu-a de novo para si e segurou-a bem forte pela cintura. Suzy estremeceu. 
- Suzy, tenho me ocupado muito a pensar em ti - Mas não devias - Eu sei, mas não consigo. 
- Tens que conseguir, afinal sou tua aluna. Não é muito bom que um professor fique ocupado a pensar em sua aluna. 
- Já disse para não me chamares de professor porque aqui somos amigos - e enchendo os olhos de luz, Tony acrescentou-a tenho pensado cegamente em ti desde o nosso primeiro encontro de manhã. Nunca em toda a minha vida tinha visto tamanha
angelicidade em uma mulher e isso está a endoidecer-me. Não consigo explicar o que sinto quando estou perto de ti, só sei que é muito forte, capaz de mover os céus, a terra e todo o universo. És tão perfeita que espantas a natureza por onde passas e eu não passo de mais uma criaturazinha que te curva os joelhos de tanta admiração. Suzy quero que me dês a oportunidade de cuidar de ti e fazer-te uma menina muito feliz. As palavras de tony soaram como uma carícia nos ouvidos de Suzy e fizeram-na levitar por um instante. Impressionava-lhe como Tony sabia escolher a palavra certa para a deixar nas nuvens. Parecia conhecer a magia certa para fazê-la ficar doidinha e por conta disso, achava-o muito perigoso para o seu gosto. 
- Pára com isso Tony. Nós nem, se quer, nos conhecemos. 
- Pois, para mim é como se te conhecesse desde o primeiro dia que espreitei o sol. É como se tivesse vivido a vida inteira esperando por este momento. Nunca tinha sentido algo semelhante ao que senti quando te vi hoje de manha na escola e ao que sinto agora olhando para os teus olhos. 
-- Aposto que tu digas isso a toda mulher que te vem pela frente. É impressionante como vocês os homens são todos iguaizinhos! Mal me conheces, já vens me atacando com palavras sedutoras. Tony atirou-lhe um beijo de surpresa e ela, estática, nada fez a não ser aceitá-lo, primeiro como que obrigada, mas aos poucos foi se deixando levar pela sensação do momento até se mergulhar completamente na onda, na profundidade daquele mar onde lábios, línguas e movimentos exóticos se cruzam e se misturam, produzindo, tensão, calor e desejos inexplicáveis. 
-- Tony, não podemos fazer isso, não dá, não está certo - disse Suzy enquanto buscava uma folga para respirar—sou tua aluna, entende isso. 
-- Suzy, eu...
-- Vou-me embora Tony. Esquece o que acabou de acontecer, esquece que existo, esquece tudo. Isso não está certo e nem vai dar certo. Tchau- e saiu a passos largos e incertos deixando Tony a se deliciar ainda das réplicas do que tinha acontecido. 

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