terça-feira, 4 de outubro de 2011

19 anos depois: que dizer sobre a Paz em Moçambique!

Tal como muitos países africanos, Moçambique após a sua independência mergulhou-se numa guerra civil, que durou 16 anos, entre o governo da FRELIMO e o maior partido da oposição então grupo de guerrilha, a RENAMO. Foram 16 anos de conflito armado que custaram muitas vidas de moçambicanos, entre os envolvidos na guerra e populares.
Depois de um longo processo de negociação entre as partes, com acompanhamento e apoio de diversas organizações e países, com destaque para a Comunidade de Santo Egídio e do Ocidente, no dia quatro de Outubro de 1992, há assinatura dos acordos de PAZ, na capital italiana – Roma, colocando término a uma década e meia de sofrimento do povo moçambicano.
Com o fim do conflito, registam-se mudanças na estrutura política, económica e social do país, a começar pela realização das primeiras eleições gerais multipartidárias em 1994, já que a nova constituição aprovada em 1990, defendia o sistema pluripartidário. Abria-se desta forma um espaço de grandes desafios para Moçambique como um todo, não apenas para o governo que era dirigido pela FRELIMO, que saíra vitoriosa nas eleições de 1994. Dentre os desafios, encontravam-se a manutenção da já instalada PAZ, não só pela ausência de disparos de armas, mas também pela satisfação das necessidades do povo, pela garantia de melhor prestação de serviços como de saúde, educação, transportes entre outros.
Politicamente, parecia que havia se instituído um bipartidarismo em Moçambique, onde apenas os dois grupos saídos da guerra (FRELIMO e RENAMO), partilhavam o poder, restando para as outras formações políticas, a função de animar a arena política nacional.
Passados hoje 19 anos após a assinatura dos acordos de PAZ, económica e socialmente, o país revela grandes mudanças rumo ao crescimento, pelo menos se comparado com o seu passado de há 10, 12, 14 anos atrás.

Contudo, algo me diz que a preciosa PAZ está em perigo, pois, ela não significa apenas o calar das armas, mas sim, a existência de tranquilidade, entendimento e harmonia entre os homens. Como dizia uma entrevistada na Rádio Moçambique, em comemoração dos 19 anos desta efeméride, a PAZ existe sempre onde há comida e satisfação. E olhando hoje para a realidade de Moçambique, acho que não há condições para existência e preservação de harmonia. As manifestações do dia cinco de Fevereiro e um a três de Setembro de 2008 e 2010 respectivamente, mostram uma saturação e insatisfação popular, que clama por boas condições de vida. Há 19 anos atrás, o país ressentia-se de pessoal formado e de instituições de formação, hoje é exactamente o contrário, muitos jovens formados no desemprego, a pouca riqueza existente encontra-se desigualmente distribuída, o que em certa medida provoca maior êxodo rural, com a cidade de Maputo sendo o centro das atenções de tudo.   
De ponto de vista político, a situação parece estar mais alarmante do que nunca, a jovem democracia, de eleição em eleição vai ruindo, dando espaço ao partido dominante, que com o tempo poderá se transformar em partido único. O país caracteriza-se agora por um débil multipartidarismo, em parte devido a crescente fraqueza da oposição, sendo que o maior partido oposto, a RENAMO, depois de 117 assentos no parlamento num total de 250, ficou apenas com 51, cujo presidente, desesperado, tem ameaçado voltar a guerra, com discursos bélicos o que de certa forma constitui uma grande ameaça a estabilidade do país.
De jeito algum, constitui este um posicionamento pessimista da realidade moçambicana, pois, a PAZ é o que mais peço a cada segundo que passa, não só por Moçambique, mas pelo mundo fora, e por isso, o meu apelo neste dia da PAZ, é que efectivamente o governo moçambicano reveja com muita seriedade a situação deste país, caso contrário, daqui algum tempo seremos como Somália. Já imaginou um país pobre como o nosso em que começam se constituir associações de licenciados desempregados, o que se pode suceder?
E para terminar, desejo a todos moçambicanos um feliz dia da PAZ, e que este dia sirva de reflexão e aperfeiçoamento de amor consigo mesmo e com seu próximo.
Ofice Jorge

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