quarta-feira, 13 de junho de 2012

Carlos Serra, lança “As chaves das portas do social”


O professor Catedrático Carlos Serra, efectuou nesta quarta-feira, na mediateca do Banco de Comercial e de Investimentos (BCI), o lançamento de mais uma obra intitulada “As chaves das portas do social”, sob chancela da Imprensa Universitária. O livro que teve o patrocínio, do BCI, é, segundo Ungulani Ba Ka Khosa, apresentador da obra, composto por um conjunto de textos que abordam a realidade social nos diferentes ângulos da vida, desde linchamentos, desemprego, pobreza, fraca qualidade de ensino, etc. De acordo com o apresentador, nesta obra, Carlos Serra, não se contenta com o actual estado dos académicos, e portanto, convida os Phd’s a mudarem de postura, aproveitando-se das tecnologias de informação para interagirem e agirem de forma mais proactiva na leitura e explicação dos fenómenos sociais.
Na sua intervenção, o Professor Catedrático, disse que qualquer sociedade, é uma porta que pode estar aberta ou fechada, e abrir as portas do social é levantar problemas aos problemas, ou seja, estudar profundamente a realidade social procurando se distanciar o máximo possível de leituras e explicações ingénuas.  

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Escritora da semana


Paulina Chiziane
Paulina Chiziane nasceu em Manjacaze, Moçambique, em 1955. Estudou Linguística em Maputo, mas não concluiu o curso. Actualmente vive e trabalha na Zambézia. Ficcionista, publicou vários contos na imprensa (Domingo, na «Página Literária», e na revista Tempo). Publicou o seu primeiro romance, Balada de Amor ao Vento, depois da independência (1990), que é também o primeiro romance de uma mulher moçambicana. "Ventos do Apocalipse", concluído em 1991, saiu em Maputo em 1995 como edição da autora e foi publicado pela Caminho em 1999. O "Sétimo Juramento" e "Niketche" foram publicados em Portugal em 2000 e 2002, respectivamente. "Balada de Amor ao Vento" é o seu quinto romance. Afirma: "Dizem que sou romancista e que fui a primeira mulher moçambicana a escrever um romance, mas eu afirmo: sou contadora de estórias e não romancista. Escrevo livros com muitas estórias, estórias grandes e pequenas. Inspiro-me nos contos à volta da fogueira, minha primeira escola de arte."
Algumas das suas obras:
O Alegre Canto da Perdiz

Resumo:
Delfina é uma mulher bonita, «uma negra daquelas que os brancos gostam». A história de vida desta Delfina, «dos contrates, dos conflitos, das confusões e contradições», é a história da mulher africana, a história da apocalíptica perda do sonho. Esta mulher debate-se entre «escolher o caminho do sofrimento», o amor que sente por José dos Montes, e eliminar a sua raça para ganhar a liberdade», procurando o homem branco que lhe dará o alimento e o conforto que deseja. Mas o que é o amor para a mulher negra? Na terra onde as mulheres se casam por encomenda na adolescência? O problema arrasta-se ao longo do livro, aparentemente sem solução: «viver em dois mundos é o mesmo que viver em dois corpos, não se pode. Tu és negra, jamais serás branca». Mesmo assim a mulher negra «procura um
filho mulato, para aliviar o negro da sua pele como quem alivia as roupas de luto».
O sufoco das palavras outrora silenciadas, a valentia e a frontalidade gritam alto nos romances de Paulina Chiziane. Neste diálogo consigo própria, a conhecida escritora moçambicana, mistura imaginação, fantástico, misticismo, num retrato poderoso e peculiar da sociedade e da mulher africanas.
Balada de Amor ao Vento
Resumo:
Sarnau e Mwando protagonizam esta estória de amor. Da juventude à idade madura, com eles percorremos os dias, os meses, os anos, os encontros e os desencontros, a dolorosa separação, o desespero, o sofrimento e a alegria, as lágrimas e os sorrisos. Atravessamos cidades e aldeias, convivemos com a tradição, aprendemos os costumes e os hábitos de um povo. Sarnau vai crescendo e amadurecendo sob o nosso olhar. Impossível não admirar a coragem, a determinação, o orgulho e
a humildade, a firmeza e o carácter desta mulher. E a sua fidelidade, mesmo nas circunstâncias mais adversas, ao amor. Ao seu primeiro e único amor. Mas haverá um reencontro? Serão Sarnau e Mwando capazes de apagar um tão longo e trágico passado? Existirá ainda para eles um futuro a partilhar? «Tu foste para mim vida, angústia, pesadelo. Cantei para ti baladas de amor ao vento. Eras para mim o mar e eu o teu sal. No abismo, não encontrei a tua mão.» Sarnau, tu que assim falaste a Mwando, chegarás a encontrar um pouco de paz? Voltarás a conseguir esboçar no rosto o teu lindo sorriso, há muito perdido no tempo? Abrirás enfim os braços para neles abrigares o amor? Ouvirás a melodia que o vento espalha no universo?

sexta-feira, 1 de junho de 2012

“Cha u tomi cha binza”

Viajei cerca de 45 minutos ao lado dum bafo insuportável de tentação (bebida alcoólica com 43% de volume de álcool, em recipiente de cerca de 300 ml, vendida ao preço de 25 meticais, cerca de 1 dólar) contudo, sem opção tive que suportar até chegar ao meu destino, tal como uma parábola bíblica faz referência, sofri, mas no fim saí com uma grande lição.
Foi numa manhã fria de segunda-feira, a cacimba denunciava vagarosamente a ausência dos transportes semi-colectivos. Eram 6:45h da manhã quando cheguei a paragem desertificada pelo tempo frio que se fazia sentir, no bairro de CMC Magoanine, (arredores da cidade de Maputo), onde me encontro a residir e o meu destino naquele instante, era a praça da OMM, mas com sorte que transformou-se momentaneamente num azar, depois de minutos o transporte não tardou a chegar e curiosamente, havia um lugar vago no auto carro, que sem demora me servi, aliás, era o único passageiro que se encontrava na paragem no momento.
Entrei sem perguntar o destino, pois a minha maior necessidade naquele instante era sair daquele lugar, sobretudo do frio que me fazia tremer até os dentes. Sentei ao lado dum passageiro que debruçava sua cabeça para baixo. “Deve estar a dormir”! Foi a primeira impressão que tive, porém, logo na primeira lomba que encontramos, despertou com uma voz bem grossa acompanhada por um bafo insuportável da bebida agressivamente destruidora – tentação.
̶  Cha u tomi cha binza!
Espantado, talvez assustado olhei para ele, o que vi, foi uma face juvenil dos 17/18 anos aproximadamente, no entanto, cansada e visivelmente agastada com a condição que a vida lhe oferece. O que eu não percebia, era se o jovem dormira embriagado na noite anterior ou na pior das situações nem havia dormido, porém, a resposta a essa indagação pouco interessava no momento, pois ambas possibilidades culminavam numa insuportável situação, que me obrigou a aguentar.
 ̶  Cha u tomi cha binza!
Continuava o jovem a murmurar e como refrão proferia a apelativa frase numa voz cada vez mais alta, como quem gritava pelo socorro, mais isso era de menos perante o insuportável cheiro que saía sempre que ele abria a boca, enquanto os restantes passageiros se irritavam pelo seu barulho, eu era pelo bafo, com espécie de limão cortado aos gomos, deixado durante dias dentro dum recipiente fechado.
E prosseguindo com a viagem que parecia levar uma eternidade, quando pensei que tinha perdido o meu dia, o pior estava por vir. Chegamos ao nó do bairro de Hulene, onde o congestionamento de automóveis, faz o quotidiano da zona, foi daí que na máxima calma o jovem tirou uma garrafinha de tentação, do bolço e sorridente me convidou a partilhar tomando um gole. Irritado desde que entrara no semi-colectivo, na hora não sabia se olhava para ele ou se calava, ou ainda se lhe dava pouca intimidade, limitando o seu atrevimento ou se de forma educada agradeceria numa linguagem eloquente, como jeito de dar poucas possibilidades de diálogo. Durante alguns segundos olhei para ele bem indeciso, mas acabei me decidido pela segunda opção, ao que me custou caro, pois surpresamente, convidei o jovem a um desabafo:
̶  Estás a ver tu jovem, sais de manhã para ires trabalhar, mas quando voltas bem tarde por causa de muito trabalho, o seu pai te tranca as portas, já imaginaste nesse frio dormires na porta da sua própria casa, sem direito a jantar – rematou o jovem embriagado.