domingo, 14 de abril de 2013

Minerva, abre 78ª Feira do livro


A livraria Minerva abre próxima quinta-feira, dia 18 de Abril, na sua sede em Maputo a 78ª feira do Livro. Decorrendo de 18 de Abril a 4 de Maio, o evento tido como tradicional na história do país e da Minerva, coincide com a celebração do seu105º aniversário que este ano assinala.
A feira contará com um conjunto de actividades diversas, com destaque para o lançamento do livro “Minerva, 100 anos”, retrato de um século de vida da instituição, que conta com textos de Machado da Graça e investigação de António Sopa.
A cerimónia de inauguração contará com as presenças do Ministro da Cultura, Armando Artur, dos escritores Luís Bernardo Honwana, Lília Momplé, Suleiman Cassamo, Ungulani Ba Ka Khosa, Sónia Sultuane, Barnabé Nkomo, Dércio Pedro e Rinkel. Na mesma data, será inaugurada uma exposição documental - uma selecção de objectos, entre fotografias, máquinas de escrever, recortes de anúncios em jornais - livros raros, da responsabilidade de Ana Antunes e Rita Couto.
Outras acções associadas à feira serão uma caça ao tesouro na fortaleza de Maputo, uma actividade para a infância com presença de animadores, lançamentos de livros, uma sessão de poesia no dia internacional do livro, um concurso de escrita e uma homenagem ao escritor Luís Bernardo Honwana.
Com quase 1000 novos títulos, nas mais diversas áreas, a FEIRA contará com a participação de mais de 20 autores moçambicanos e tem parcerias com a Universidade Eduardo Mondlane, a Associação dos Escritores Moçambicanos, o Pelouro da Cultura do Conselho Municipal de Maputo, os Poetas d’Alma - ICMA, o Projecto Formiga Juju, o Projecto Ler para Crescer e a Plural Editores.
Fundada em 1908, a Livraria Minerva é a mais antiga do país, uma das três mais antigas do Continente africano.
"Minerva, Livros com História"

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Minha Vizinha!


Fazia tempo que o cruzamento dos nossos olhares resultava em uma tempestade “não sei direito” dolorosa, porém ao mesmo tempo agradável. Nunca havíamos trocado palavras, até porque acabara de me mudar para aquele bairro e portanto tomado pela vergonha não me expunha para aquela gente que pouco conhecia.
E mesmo dominado pela timidez que me ofuscava por dentro, uma coisa eu tinha certeza. Queria falar e conhecer minha vizinha. Não era para menos. Ela era extraordinariamente linda, corpo de “viola” como por cá se diz, sorriso ardente e contagiante, e a cada vez que eu a via descalça, sacudindo o calor em pleno passeio da sua casa, imaginava ciumentamente aquela arte de mulher desfilando numa das passarelas de Milão.

Pés embora, a decepção amorosa que tivera anteriormente, ainda me restou espaço e paciência para me atrair por ela, que para além de atraente revela-se mais experiente e bem vivida, contudo, mesmo assim pretendia ao menos dizer para ela “oi? …”. E foi assim que em direcção ao portão da minha casa, vindo de mais uma batalha diária, de repente uma voz que parecia alguma vez ter sussurrado ao meu ouvido durante um sonho, diz: olá? Ganhei susto, não pelo tom da voz, até porque era tão suave, mas pela forte energia que a mesma transmitiu-me deixando-me completamente paralítico tendo respondido apenas – oi, …! Gostaria de ter falado mais alguma coisa, mas o seu olhar e sorriso acompanhados pelo perfume que apimentava o local, me roubaram as palavras. Se não fosse pelo grito de alguém que da minha casa chamava por mim, confesso que teria seguido em frente passando pelo portão de casa despercebidamente.

Durante aquela tarde, a palma da mão não me saia da testa. Pensativo e feliz pelo que acontecera, no entanto, sentia-me desafiado, devendo também lhe dizer “oi?” e naturalmente de forma diferente.

Nos dias que se seguiram, fui lhe saudando da mesma forma como ela fizera, talvez com alguma coisa a mais, mas sem nada digno de realce. Infelizmente, a vida dura que carrego vai me roendo pouco a pouco a memória. E portanto, já não me lembro direito, apenas sei dizer que “num dia”…mas, num dia…a nossa saudação levou mais tempo que o habitual e no tal curto tempo, consegui lhe “roubar” com sucesso um convite para passar a tarde comigo.

Eh! Fazia bastante tempo que não recebia uma visita do género, nem me lembro da última vez que tal teria acontecido, e por isso estava tenso! Encontrava-me no quarto quando ela bateu a porta, e suado de tanta tensão e ansiedade, na minha inexperiente cortesia a recebi com todo carinho.

No quarto, com cada palavra trocada ia ganhando mais coragem, mas ao mesmo tempo ficava claro que ela era efectivamente mais vivida, o que sem dúvida me deixa receoso.

Durante a conversa fui lhe falando desabafadamente da minha me*** de vida, e ela das suas aventuras e perspectivas para o futuro, o que nalgum momento me deixava ciumento, pois ficava com impressão de que ela era muito mais feliz que eu. Entretanto, com ela aprendi que “talvez” devia parar de pensar como adulto, passar tempo comigo mesmo e me conhecer melhor, de forma a conquistar não só uma vida de sucesso, mas acima de tudo repleta de felicidade. Ela reconheceu e elogiou (o que ninguém me fazia por muito tempo), a minha entrega e objectividade no trabalho, contudo, disse me que sonhava grande de mais. Para ela, sonhar era bom, mas pensar planejando de forma concreta era ainda melhor e sobretudo objectivo.  

Já tinha ouvido alguma vez o que ela me dissera, porém parecia primeira vez e prometi-lhe tirar um tempo na minha vida para colocar as ideias no lugar.

Era um momento fantástico, e fabulosa era também a pessoa com que partilhava, linda e deslumbrante como se seus pais tivessem encomendado um médico-arquitecto para cuidar da gravidez. Com ela aí, o mundo podia acabar, era como se tivesse atingido o cúmulo da minha felicidade. E der repente enganado pelo movimento extraordinário de seus lábios, sou assaltado por um beijo. Um beijo! Um beijo! Mas um beijo! Beijo longo, que a cada segundo ia apertando cada vez mais meu íntimo, com a paixão reduzindo crescentemente a razão do meu ser. Ela me abraçava, me apertava como ninguém me fizera antes, enxugando toda paixão que a atormentava após ter me visto pela primeira vez. Nos “poucos” instantes que a razão me chamava, era presenteado por uma peça de roupa caindo no chão. Cama solteira que ficava cada vez mais solteira por nunca ter visto mais ninguém por lá além de mim, naquele momento ajeitava e aconchegava nossos corpos juntos como Adão e Eva.  

… após aquilo, os nossos olhares depararam se como se de duas crianças se tratassem, esperando por um castigo depois de uma grande asneira. Ainda houve aperitivo de piadinhas, mas o mais  evidente, era a felicidade entre ambos. Mesmo na minha ingenuidade naquilo, tinha certeza de que pelo menos lhe fizera feliz naquele momento.

Com receio de estragar tudo “não sei”, ela despediu-se e disse: até mais Jorge. Curiosamente era primeira vez que pronunciava meu nome, mas foi fantástico, parecia mais bonito do que é. Hehehe! "Tirei lhe" do quarto e ela deu-me um beijo na bochecha e ainda disse bem no meu ouvido – fique bem.

Não podia lhe acompanhar até ao portão, afinal de contas era minha vizinha. Quando voltei ao quarto, o som da música não era o mesmo, o perfume do quarto também aparentava alterado, tinha tudo mudado, sobretudo em mim.

E na esperança de a partir daquele momento poder contar com mais alguém para partilhar os sabores e dissabores da minha vida, fui desesperadamente surpreendido com a notícia que dava conta que ela tinha viajado. Tsk! Fiquei sabendo também que ela apenas estava aí desfrutando os últimos dias de férias académicas, e com o início do ano lectivo regressara ao estrangeiro para terminar os estudos.

Não tendo me contando nada sobre aquilo, tudo que acontecera entre nós, começou a perder sentido. O homem que mudara em menos de 24 horas, tinha mergulhado de novo numa estranha e sem precedentes decepção. No entanto, racionalmente sentia me bem e reconhecia que um dia tinha me tornado feliz.

Na esperança de um dia revê-la, assinei na minha cabeceira – Minha vizinha.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Quando as expectativas da oposição se frustram, gera-se um caos, propiciado um ambiente de desestabilização!


Todas as sociedades democraticamente constituídas, são caracterizadas por possuir um sistema multipartidário, e a existência de inúmeros partidos que lutam pelo poder é inerente à esse regime. O problema que se coloca é que para a maior parte dos partidos da oposição de África, caracterizam-se por possuir uma história que começa e termina sem terem usufruído do poder.
A principal razão desse cenário, é a de que o nacionalismo para os partidos no poder que libertaram os seus países do sistema colonial aparece como a característica básica, para o caso de Moçambique, a FRELIMO invoca a sua legitimidade histórica como obreira da independência surgindo assim, uma desvalorização implícita da legitimidade histórica e política do mais antigo partido da oposição (RENAMO) e em parte é essa falta de legitimidade que vai limitar o espaço para esse partido.
Os partidos da oposição a nível de África justificam a sua existência alegando a falta de representatividade, exploração e exclusão. A RENAMO surge também nesse âmbito de protesto, com o objectivo de “reduzir a zero” o “poder comunista” da FRELIMO. Porém esse objectivo viria a ser desmentido pela forma como a RENAMO agia, visto que estava a ser instrumentalizada pelo regime da minoria branca da África de Sul, distanciando-se deste modo da defesa de um Moçambique representativo e de inclusão. Só no contexto que procedeu a assinatura dos acordos de paz, quando a RENAMO se constitui como um partido, vai apresentar um objectivo claro de legalmente lutar para alcançar e manter o poder.
O poder neste caso seria a grande expectativa do partido RENAMO. Na perspectiva da Ciência Política, expectativa seria segurança/certeza em se alcançar um determinado resultado/objectivos, no entanto caso esse resultado/objectivo não se alcance, surge uma frustração, por sua vez essa a frustração gera uma intolerância da realidade que pode levar a violência física ou verbal.
A perspectiva acima exposta nos remete as seguintes hipóteses, o partido RENAMO frustrou as suas expectativas logo após a assinatura dos acordos de paz, em que os pontos acordados não foram respeitados pela FRELIMO, a outra hipótese é a de que o partido RENAMO frustrou as suas expectativas logo no primeiro escrutínio de 1994, em que saiu derrotado. Ambas hipóteses são válidas, visto que a frustração neste caso pode ser resultado da desobediência dos pontos acordados na assinatura dos acordos de paz assim como pode ser resultado da derrota sofrida, particularmente a esse facto, no ano após uma eleição, o risco de uma violência é maior: presumivelmente, quem perder o escrutínio não gosta do resultado e esta voltado a explorar outras opções, como é o caso da desestabilização do Governo democraticamente eleito.
O que temos assistido no campo político moçambicano ao longo dos últimos anos, são acções pouco convincente nas campanhas eleitorais, são intervenções confusas ao nível do plenário e uma postura degradante duma RENAMO desesperada e frustrada. A última atitude do presidente deste partido, Afonso Dlhakama de exigir o Chefe de Estado e do Governo a deslocar-se a Gorongosa é segundo este, uma atitude de inconformidade com actual cenário de Governação.
É neste sentido que, não obstante as revindicações constantes da povo, os partidos da oposição são competentes em termos de relações públicas e utilizam a insatisfação do povo como arma para desestabilizar o Governo. Não quero com esse argumento tirar a responsabilidade dos Governos que ignoram as reivindicações dos seus povos mas sim sublinhar que as revindicações, quer do povo ou da própria oposição tem maior possibilidade de ser atendidas quando bem canalizadas por meios legalmente instituídos.
O posicionamento por parte do chefe do partido da oposição substancia a minha tese, segundo a qual quando as expectativas da oposição se frustram, gera-se um caos, propiciado um ambiente de desestabilização. Quando Dlhakama exige que o chefe de Estado, figura número um deste país, representante de todos nós, se desloque a Gorongosa, ele esta implicitamente a exigir a nação para que vá ao seu encontro. Neste sentido, a RENAMO, acredita no diálogo como uma possibilidade para alterar o actual cenário político, sob ponto de vista teórico, mas não como uma realidade sobre ponto de vista prático, porque na verdade estamos perante uma chantagem, uma manifestação do poder. Na perspectiva da Ciência Política, a manifestação de poder define-se pela capacidade de obrigar outros a aceitar ou adoptar um determinado comportamento.
A percepção que se gera, é a de que estamos perante um caos, o chefe de Estado ao ceder as exigências de Dlhakama, estará a transferir o poder de tomada de decisão. Que fique bem claro que o que esta em causa neste ponto não é o diálogo, que na verdade é fundamental para a edificação da democracia, mas sim as exigências de Dlhakama, de mobilizar o chefe de Estado a ir ao seu encontro, esta é no meu entender uma clara atitude de frustração tendente a desestabilizar o Governo democraticamente eleito.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Mukero


Por debaixo do sol vai um homem
Adulto ou já velhinho talvez
Pés descalços em rotas sacas
Já vão dois, três ou dez

Cortam por debaixo das mãos
Cheias de calos de bolhas de sangue
A vida que traz neles a escravidão
Em que a pobreza é colono e patrão

Lá vão eles para a cidade
Por debaixo da chuva e tempestade
Vão para Baixa e Xiphamanine

As mulheres têm fardos gordos
E no colo um menino mimado
Vão para casa do patrão em Hulene

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Eu tenho Um Sonho!


A 25 de Setembro de 1975, Moçambique conquistava a sua independência do governo colonial português. Logo após este marco na história do povo moçambicano, o país vive um momento difícil, caracterizado por uma pobreza extrema associado ao conflito armado interno que opunha o actual partido no poder, a FRELIMO e o maior partido da oposição a RENAMO, então grupo de guerrilha. Foi sem dúvida alguma, um período dramático na vida dos moçambicanos, que tanto precisavam de sossego e conforto, depois da longa e dolorosa colonização portuguesa. Após 16 anos de guerra civil, finalmente o país vive uma definitiva estabilidade, com a assinatura dos acordos de Paz em 1992, na capital italiana, Roma.
E volvidos hoje cerca de 37 anos de independência e 20 anos de Paz, Moçambique, é um país livre, estável e com sinais de um indiscutível franco desenvolvimento, por um lado, devido ao maior apoio em investimento que tem recebido por parte de organizações internacionais e por outro, pelo trabalho conjunto que o governo tem realizado com vista ao desenvolvimento sustentável e melhoria das condições de vida da população moçambicana.

Hoje o país conta com mais de 36 instituições de ensino superior, cujo objectivo é garantir a formação de profissionais em diversas áreas científicas, assim como também, regista um aumento significativo de investimentos externos de grande dimensão, que têm contribuído grandemente para o alívio da pobreza que ainda assola milhares e milhares de moçambicanos.

No entanto, apesar do visível crescimento económico e da relativa melhoria na qualidade de vida, Moçambique, enfrenta um grande problema que coloca em risco todo este esforço tendente ao desenvolvimento do país. A Corrupção.

Definida como o uso do poder para obtenção de vantagens e fazer uso de dinheiro público para alcançar interesses próprios, de um amigo, da família ou integrante. Este fenómeno, segundo especialistas, pode ser visto a dois níveis, nomeadamente:  Pequena Corrupção  (a mais visível), que verifica-se nos postos policiais, unidades sanitárias, escolas, e departamentos do governo e Grande Corrupção,  que caracteriza-se por desvio de fundos significativos dos cofres do Estado e no mau comportamento e abuso de poder.

Este problema, tem como consequências, a diminuição do investimento externo, redução ou má a prestação de serviços públicos, grandes despesas para o governo, sendo que a população mais desfavorecida é a maior vítima, pois, depende totalmente de serviços públicos.

Contudo, mesmo diante desta dramática situação,  Eu tenho um sonho. Diz se que a corrupção em Moçambique, apesar de se considerar um crime, é um acto legitimado pela sociedade e portanto, é uma norma social e cultural que faz parte do quotidiano dos moçambicanos, porém, mesmo assim,  Eu tenho um sonho.

Eu tenho um sonho de nunca mais ouvir condutores na Cidade de Maputo, se queixando de subornos pelos polícias, pelo que, sonho em cada dia da minha vida, com uma polícia moçambicana justa, íntegra e que seja efectivamente actor da lei e ordem no país.

Nem com as grandes filas e enchentes nos hospitais e noutros serviços públicos,  Eu tenho um sonho.  Pés embora “os magros” salários que os nossos funcionários públicos ostentam,  Eu tenho um sonho.  O sonho de jamais presenciar cenas de gorjetas à agentes públicos para ou por um atendimento mais rápido/melhor em qualquer que seja instituição do Estado e nem de ser cobrado algum valor monetário “injustamente” por um serviço a que mereço por direito.    

Eu tenho um sonho, sonho de ver aquele Gabinete Central de Combate à Corrupção, funcionando com eficiência e eficácia para os propósitos aos quais foi instituído, ou seja, investigar e instaurar processos contra os funcionários públicos acusados de fraude e abuso do poder.  Eu tenho um sonho, de presenciar mais casos de funcionários desonestos e corruptos sendo condenados exemplarmente, tal como aconteceu na empresa dos Aeroportos de Moçambique, onde funcionários de alto nível, foram responsabilizados por desvio de grandes quantias de dinheiro do Estado.

Ainda que me digam que as caixas de reclamação nas instituições públicas, não funcionam, são apenas para “o inglês ver” como por cá se diz, Eu tenho um sonho de um dia este país se tornar exemplo de transparência, de responsabilização e acima de tudo de integridade, no que diz respeito a governação, prestação de contas e resolução dos problemas do povo.

Eu tenho um sonho, de uma geração futura que não tenha como obstáculo para o seu desenvolvimento, a Corrupção, e que se empenhe lutando por um Moçambique próspero e ainda melhor. Em fim,  Eu tenho um sonho,  de um dia viver em um Moçambique livre da corrupção.

(Baseado no original discurso de Martin Luther King, 28/08/1963)

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Ausência


Ausência por dentro, ausência por fora
Momento em que até o sentimento me abandona
O calar do intenso silêncio em mim, agora aflora
Tento oferecer-me por instantes à memória
Mas o que era dantes, agora é apenas memória

Tenho saudades dos instantes antes de serem memórias
Mas o tempo evapora e arrasta a felicidade
Absorve as horas até não sobrarem instantes
Com um ente - querido ou um amigo que partiu
Através do qual o destino me seduz ao vazio

O desespero é razão da tristeza não qual mergulhei
Gastei a esperança em tantas mortes que chorei
O meu olho é a fonte da qual bebo a eterna dor
Me desacolho neste mesmo abrigo que ontem era amor

A solidão chama por mim sem precisar de abrir a boca
Escuto os passos do meu fim caminhando com força
Talvez uma amiga aproximar-me-ia das distâncias
Mas o sal da língua desaboreia-me as palavras
Desisto desta constante procura que não me acalma
Mas no íntimo, o sangue acaricia-me como se tivesse palma

Foi a fome de infinitos amores, que fez por dentro
As paredes do meu interior, ruínas com o telhado suspenso
Sofrendo o peso do seu sustento, permaneço
Sob o tempo que me vai lambendo sobre a pele os ferimentos

domingo, 18 de novembro de 2012

Que culpa temos nós?


                                                                             (Ao Jorge Viegas)


Gentil nossa alma,
Nossa esperança, dores, mágoas, enfim, roubadas.
Penúrias penduradas n’angústias
Desfeitas de graças.

Estas vaidades traduzidas nas danças de batuques marimba, enfim.
Oh! danças de ekuetthe danças desconhecidas!
- Será que não lembram destas danças?
- Isto é mesmo que não lembrar do filho desta terra esquecida ah!
Que esperança falhada nesta terra de moldes, desfeita de estragar tijolos de adobe!

Tristeza é a palavra que só se vos diz.
Nestes gritos esquecidos;
Gritos sem referentes, sem donos.

Ah! que tristeza nos acolhe nestes abrigos sem reflexos!
Que pena nos impedem de sonhar!
Esperança desfeita de mistérios dos magnos xicuembos.
Lily dos Amures

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Uma presente ausência de Liberdade


Antes de mais, dizer que, isto não é um poema como o habitual, muito menos a tal filosofia dos oprimidos ou descontentes, talvez uma lógica fora dos padrões da consciência impostos pelos 'sábios', ou então um exto do chão, com pobres palavras abandonadas por entre a poeira pela vaidade avulsa dos olhos, sem qualquer interesse ou regra (estranho... então porquê o escreves?)
Escrevo isto não sei porquê? Ah, já sei, apeteceu-me só escrever por escrever (era ridículo se só isso fosse). Não sei se é uma questão de linguagem ou 'deslinguagem' (não me limito à modelos lexicais), ou sei lá o quê!
Não obstante, a verdade é só uma, a liberdade propriamente dita, definitivamente é uma coisa quase 'inexistente' em muitos de nós, mesmo existindo. Somos livres, mas não o somos. Tão simples quanto isso. Ora vejamos: Vives numa sociedade em que 'nem não' tens poder de 'auto exploração', isto porque há padrões já 'determinados', os quais deves seguir, caso contrário, és 'fora de moda'. Pensando bem, isto não é precisamente viver numa sociedade, é viver de uma sociedade.
Diz-me: se não fazes o que é suposto, porque temes alguma represália ou então porque pretendes uma fácil integração social - és livre? Se o mundo ou a sociedade 'admira-te' pelo que ela mesma exige ou faz de ti
- És livre? Consideras-te livre por viveres a vida dos outros?
A liberdade não está no simples poder fazer. A liberdade vai muito para além do 'querer' o querido ou o já existente. A verdadeira liberdade, está no sentir e fazer sem temer.
Não preciso de abrir os olhos porque nunca os fechei. Não sou crítico, estou muito longe de ser um filósofo, mais longe ainda, estou eu de ser um visionário (tenho os olhos bem pequenos de nascença), mas esta minha alma não é pequena, então, vale a
pena (já disse o poeta). Repito 'não sou crítico'. Crítica é a forma como agem os 'menos instruídos' no meu país. Será inocência (não creio)? Músicos manipulados pelas mãos sem ofícios, de uma sociedade que alimenta as suas vontades através destes. A fome pela fama faz-lhes caírem em Câmara Lenta no ridículo. Costumo dizer: A causa da qual ontem foste defensor, é a mesma que hoje te oprime, simplesmente porque não tinhas causa, lutaste 'por causa de...' Acredite ou não, é isto que acontece com os nossos 'Músicos da Praça'. Os Músicos que não fazem música, fazem músicas. Talvez fazia sentido se fosse em busca de uma identidade, mas não. A busca é mesmo bem outra 'a igualdade' – O Altar da fama'. Sim, igualdade, porque nesta nossa 'Era do aparente' aquilo que parece, é que é, e é nisto que todos acreditam e correm atrás. Trocando em 'miúdos', a igualdade é condição sem a qual o 'reconhecimento' é somente uma pretensão. Trocando agora em 'miudinhos', é um dever fazer o que está na moda para ser alguém e se ter algum valor ou és isolado e desvalorizado como um qualquer. Confrontados, a resposta é comummente: o músico deve inovar.
Também, eu sou músico do povo. Eu sirvo o povo. Além do mais, este 'Phipol grama maningue disto'. Com que então, pergunto eu: - quem serve-te a ti? - Será que 'gramas maningue' tu também? - Achas-te livre por isso?
Por outro lado, miúdas humilhadamente corrompidas em troca de uma aparente posição social, algumas porque a amiga seguiu o mesmo caminho e não querem ficar atrás. Outras (muitas até), porque é a forma mais fácil de adquirir a última 'txuna baby' ou então os famosos cabelos mortos 'extensões' e manter o 'status' socialmente aceite, acabando muitas delas especializando-se na vida do 'sexo comercial' e sem pelo menos bocados de valor em plena menoridade. Confrontadas, a resposta é comummente: da
minha vida cuido eu, faço o que bem entendo e quero. E os teus pobres conselhos nada me darão, seu 'Zé Ninguém'. - É isso ser livre? Obrigo-me a mim a parar por aqui. Sei que todas estas palavras 'tão muitas' que escrevo, são palavras vazias que preenchem um momento 'criativo' gasto em vão, mas como anteriormente com orgulho disse o dito pelo poeta 'tudo vale a pena quando a alma não é pequena.
'Junguiando' um pouco através da questionável 'psicologia analítica', o que há mesmo de colectivo em mim, talvez só os 'arquétipos' ou experiências herdados dos meus antepassados 'Inconsciente Colectivo', mas a iniciativa pelo que faço é bem própria, está longe de partir de influências extras. Enfim, escrevo inicialmente por mim, aquilo que sinto. O que escrevo torna-se 'comum' apenas porque um sentimento pode ser recíproco ou abrangente. A liberdade vive dentro de nós e manifesta-se na iniciativa, na criação. Enquanto não nos explorarmos, nunca seremos livres.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

“Sonho em participar numa exposição de âmbito internacional”


Pés embora as dificuldades para expor suas obras nos eventos nacionais, Guivala, sonha em participar de uma exposição internacional. Com 21 anos de idade, Fernando Guivala é um artista plástico, nascido e residente na cidade de Maputo, formado em artes visuais pela Escola Nacional de Artes Visuais.    
Começa a pintar com 9 anos, quando frequentava a quinta classe, e entre as suas paixões encontra-se o desporto, especificamente o futebol, razão pela qual as suas obras retratam o panorama desportivo, tanto nacional como internacional, aliás segundo o artista, antes de descobrir o seu extraordinário talento pela arte, sonhava em ser um grande jogador de futebol.
Apesar do seu profundo e indiscutível amor pela arte plástica, Guivala, mostra-se infeliz com estado actual da arte em Moçambique, sendo que o maior problema para ele, cinge-se nas dificuldades em participar de exposições, por um lado devido ao número reduzido de eventos do género e por outro, pelo fraco interesse e falta de comprometimento das autoridades ligadas a arte no país.
“Sonho em participar numa exposição de âmbito internacional”, afirma Guivala, para quem os obstáculos no seu caminho artístico, são normais e portanto, vencidos pela sua paixão artística. 
Um talento indiscutivel 






Gostou? Quer um igual? Entre em contacto.

domingo, 11 de novembro de 2012

Vovó Maria respira de alívio: o filho voltou, mas doente! (Cap. II)


Dando continuidade ao primeiro capítulo que relata a vida de uma pobre velha que recebe seu filho de volta depois de 25 anos a viver na África do sul, publicado em Setembro de 2011.
Após o momento pouco agradável entre os dois pelas angústias que teriam tomado suas almas, vovó Maria viria a desfrutar de um certo sossego e alegria, na medida em que o perigo que ameaçava a vida do filho, parecia o ter marcado distância, razão suficiente para dizer que “só mesmo Deus sabe quando e onde paramos de viver”.     
A saúde do filho da pobre velha registava melhorias. Para vovó Maria, era como se nada tivesse acontecido no passado, orgulhava-se de vê-lo reencontrar a família e fazer novas amizades na zona, com as quais partilhava não só as memórias da terra do rand, mas também a sua vida em Moçambique antes da ida a terra do "cunhado Mandela". Vovó Maria aproveitou o momento para fazer parte da vida do filho que por 25 anos lhe criara muito sofrimento e desgosto, contudo, tinha acabado, pois podia abraça-lo sempre que pudesse e mesmo com idade muito avançada, ainda prestava-lhe pequenos serviços domésticos, cozinhando, lavando sua roupa, entre outros.  
Os dias foram passando, e naturalmente a saúde do filho da vovó registava algumas crises, mas ainda dava para aguentar, até porque, ele próprio sonhava com dias melhores tencionado começar tudo de novo. E dada a ansiedade de dar a volta por cima, o filho da vovó, não perdeu a oportunidade de fazer parte de um culto religioso denominado Dia D (Dia de Decisão) realizado pela Igreja Universal do Reino de Deus, no dia 26 de Setembro de 2011, cujo objectivo era de libertar as pessoas de males espirituais. Diante da profunda angústia que lhe sufocava o peito, o filho da vovó Maria, se fez presente ao famoso culto na esperança de obter saúde plena e paz consigo mesmo.
Não se sabe ao certo o que teria sucedido nos dias que se seguiram, mas suponho eu, que tenha sido desespero demais. A relação entre vovó Maria e seu filho, teria mergulhado numa crise caracterizada por acusações mútuas entre as partes, e surpreendentemente mesmo com a saúde que dava um rumo esperançoso, o filho da vovó Maria meteu-se no álcool. (cont.)

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

“Fotografias do Tempo” da autoria de Maxtungo Poeta


O poeta e rapper moçambicano Maxtungo Poeta, lança no próximo dia 17 de Novembro (sábado), no Centro Brasil – Moçambique, a sua primeira obra literária intitulada “Fotografias do Tempo”. Sob chancela da Editora Litera Cartão, a obra é produzida por meio de material reciclado, e é parte de um projecto inovador na produção de obras literárias que teve o seu início na Argélia, como forma de garantir a publicação e divulgação de escritores emergentes e com limitações financeiras. 
De acordo com Maxtungo, “ Fotografias do Tempo”, é um conjunto de poesias que constituem uma auto-reflexão num determinado momento, apresentada através de histórias fotografadas.
A semelhança do livro, Maxtungo, projecta lançar ainda este ano, o seu primeiro single de Hip Hop, que conta com cinco números musicais com destaque para “Hip Hop Jazz”, título do seu último trabalho e “Montanhade livros”, primeiro de estudo.   

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Carlos Serra, lança “As chaves das portas do social”


O professor Catedrático Carlos Serra, efectuou nesta quarta-feira, na mediateca do Banco de Comercial e de Investimentos (BCI), o lançamento de mais uma obra intitulada “As chaves das portas do social”, sob chancela da Imprensa Universitária. O livro que teve o patrocínio, do BCI, é, segundo Ungulani Ba Ka Khosa, apresentador da obra, composto por um conjunto de textos que abordam a realidade social nos diferentes ângulos da vida, desde linchamentos, desemprego, pobreza, fraca qualidade de ensino, etc. De acordo com o apresentador, nesta obra, Carlos Serra, não se contenta com o actual estado dos académicos, e portanto, convida os Phd’s a mudarem de postura, aproveitando-se das tecnologias de informação para interagirem e agirem de forma mais proactiva na leitura e explicação dos fenómenos sociais.
Na sua intervenção, o Professor Catedrático, disse que qualquer sociedade, é uma porta que pode estar aberta ou fechada, e abrir as portas do social é levantar problemas aos problemas, ou seja, estudar profundamente a realidade social procurando se distanciar o máximo possível de leituras e explicações ingénuas.  

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Escritora da semana


Paulina Chiziane
Paulina Chiziane nasceu em Manjacaze, Moçambique, em 1955. Estudou Linguística em Maputo, mas não concluiu o curso. Actualmente vive e trabalha na Zambézia. Ficcionista, publicou vários contos na imprensa (Domingo, na «Página Literária», e na revista Tempo). Publicou o seu primeiro romance, Balada de Amor ao Vento, depois da independência (1990), que é também o primeiro romance de uma mulher moçambicana. "Ventos do Apocalipse", concluído em 1991, saiu em Maputo em 1995 como edição da autora e foi publicado pela Caminho em 1999. O "Sétimo Juramento" e "Niketche" foram publicados em Portugal em 2000 e 2002, respectivamente. "Balada de Amor ao Vento" é o seu quinto romance. Afirma: "Dizem que sou romancista e que fui a primeira mulher moçambicana a escrever um romance, mas eu afirmo: sou contadora de estórias e não romancista. Escrevo livros com muitas estórias, estórias grandes e pequenas. Inspiro-me nos contos à volta da fogueira, minha primeira escola de arte."
Algumas das suas obras:
O Alegre Canto da Perdiz

Resumo:
Delfina é uma mulher bonita, «uma negra daquelas que os brancos gostam». A história de vida desta Delfina, «dos contrates, dos conflitos, das confusões e contradições», é a história da mulher africana, a história da apocalíptica perda do sonho. Esta mulher debate-se entre «escolher o caminho do sofrimento», o amor que sente por José dos Montes, e eliminar a sua raça para ganhar a liberdade», procurando o homem branco que lhe dará o alimento e o conforto que deseja. Mas o que é o amor para a mulher negra? Na terra onde as mulheres se casam por encomenda na adolescência? O problema arrasta-se ao longo do livro, aparentemente sem solução: «viver em dois mundos é o mesmo que viver em dois corpos, não se pode. Tu és negra, jamais serás branca». Mesmo assim a mulher negra «procura um
filho mulato, para aliviar o negro da sua pele como quem alivia as roupas de luto».
O sufoco das palavras outrora silenciadas, a valentia e a frontalidade gritam alto nos romances de Paulina Chiziane. Neste diálogo consigo própria, a conhecida escritora moçambicana, mistura imaginação, fantástico, misticismo, num retrato poderoso e peculiar da sociedade e da mulher africanas.
Balada de Amor ao Vento
Resumo:
Sarnau e Mwando protagonizam esta estória de amor. Da juventude à idade madura, com eles percorremos os dias, os meses, os anos, os encontros e os desencontros, a dolorosa separação, o desespero, o sofrimento e a alegria, as lágrimas e os sorrisos. Atravessamos cidades e aldeias, convivemos com a tradição, aprendemos os costumes e os hábitos de um povo. Sarnau vai crescendo e amadurecendo sob o nosso olhar. Impossível não admirar a coragem, a determinação, o orgulho e
a humildade, a firmeza e o carácter desta mulher. E a sua fidelidade, mesmo nas circunstâncias mais adversas, ao amor. Ao seu primeiro e único amor. Mas haverá um reencontro? Serão Sarnau e Mwando capazes de apagar um tão longo e trágico passado? Existirá ainda para eles um futuro a partilhar? «Tu foste para mim vida, angústia, pesadelo. Cantei para ti baladas de amor ao vento. Eras para mim o mar e eu o teu sal. No abismo, não encontrei a tua mão.» Sarnau, tu que assim falaste a Mwando, chegarás a encontrar um pouco de paz? Voltarás a conseguir esboçar no rosto o teu lindo sorriso, há muito perdido no tempo? Abrirás enfim os braços para neles abrigares o amor? Ouvirás a melodia que o vento espalha no universo?