quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Mukero


Por debaixo do sol vai um homem
Adulto ou já velhinho talvez
Pés descalços em rotas sacas
Já vão dois, três ou dez

Cortam por debaixo das mãos
Cheias de calos de bolhas de sangue
A vida que traz neles a escravidão
Em que a pobreza é colono e patrão

Lá vão eles para a cidade
Por debaixo da chuva e tempestade
Vão para Baixa e Xiphamanine

As mulheres têm fardos gordos
E no colo um menino mimado
Vão para casa do patrão em Hulene

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Eu tenho Um Sonho!


A 25 de Setembro de 1975, Moçambique conquistava a sua independência do governo colonial português. Logo após este marco na história do povo moçambicano, o país vive um momento difícil, caracterizado por uma pobreza extrema associado ao conflito armado interno que opunha o actual partido no poder, a FRELIMO e o maior partido da oposição a RENAMO, então grupo de guerrilha. Foi sem dúvida alguma, um período dramático na vida dos moçambicanos, que tanto precisavam de sossego e conforto, depois da longa e dolorosa colonização portuguesa. Após 16 anos de guerra civil, finalmente o país vive uma definitiva estabilidade, com a assinatura dos acordos de Paz em 1992, na capital italiana, Roma.
E volvidos hoje cerca de 37 anos de independência e 20 anos de Paz, Moçambique, é um país livre, estável e com sinais de um indiscutível franco desenvolvimento, por um lado, devido ao maior apoio em investimento que tem recebido por parte de organizações internacionais e por outro, pelo trabalho conjunto que o governo tem realizado com vista ao desenvolvimento sustentável e melhoria das condições de vida da população moçambicana.

Hoje o país conta com mais de 36 instituições de ensino superior, cujo objectivo é garantir a formação de profissionais em diversas áreas científicas, assim como também, regista um aumento significativo de investimentos externos de grande dimensão, que têm contribuído grandemente para o alívio da pobreza que ainda assola milhares e milhares de moçambicanos.

No entanto, apesar do visível crescimento económico e da relativa melhoria na qualidade de vida, Moçambique, enfrenta um grande problema que coloca em risco todo este esforço tendente ao desenvolvimento do país. A Corrupção.

Definida como o uso do poder para obtenção de vantagens e fazer uso de dinheiro público para alcançar interesses próprios, de um amigo, da família ou integrante. Este fenómeno, segundo especialistas, pode ser visto a dois níveis, nomeadamente:  Pequena Corrupção  (a mais visível), que verifica-se nos postos policiais, unidades sanitárias, escolas, e departamentos do governo e Grande Corrupção,  que caracteriza-se por desvio de fundos significativos dos cofres do Estado e no mau comportamento e abuso de poder.

Este problema, tem como consequências, a diminuição do investimento externo, redução ou má a prestação de serviços públicos, grandes despesas para o governo, sendo que a população mais desfavorecida é a maior vítima, pois, depende totalmente de serviços públicos.

Contudo, mesmo diante desta dramática situação,  Eu tenho um sonho. Diz se que a corrupção em Moçambique, apesar de se considerar um crime, é um acto legitimado pela sociedade e portanto, é uma norma social e cultural que faz parte do quotidiano dos moçambicanos, porém, mesmo assim,  Eu tenho um sonho.

Eu tenho um sonho de nunca mais ouvir condutores na Cidade de Maputo, se queixando de subornos pelos polícias, pelo que, sonho em cada dia da minha vida, com uma polícia moçambicana justa, íntegra e que seja efectivamente actor da lei e ordem no país.

Nem com as grandes filas e enchentes nos hospitais e noutros serviços públicos,  Eu tenho um sonho.  Pés embora “os magros” salários que os nossos funcionários públicos ostentam,  Eu tenho um sonho.  O sonho de jamais presenciar cenas de gorjetas à agentes públicos para ou por um atendimento mais rápido/melhor em qualquer que seja instituição do Estado e nem de ser cobrado algum valor monetário “injustamente” por um serviço a que mereço por direito.    

Eu tenho um sonho, sonho de ver aquele Gabinete Central de Combate à Corrupção, funcionando com eficiência e eficácia para os propósitos aos quais foi instituído, ou seja, investigar e instaurar processos contra os funcionários públicos acusados de fraude e abuso do poder.  Eu tenho um sonho, de presenciar mais casos de funcionários desonestos e corruptos sendo condenados exemplarmente, tal como aconteceu na empresa dos Aeroportos de Moçambique, onde funcionários de alto nível, foram responsabilizados por desvio de grandes quantias de dinheiro do Estado.

Ainda que me digam que as caixas de reclamação nas instituições públicas, não funcionam, são apenas para “o inglês ver” como por cá se diz, Eu tenho um sonho de um dia este país se tornar exemplo de transparência, de responsabilização e acima de tudo de integridade, no que diz respeito a governação, prestação de contas e resolução dos problemas do povo.

Eu tenho um sonho, de uma geração futura que não tenha como obstáculo para o seu desenvolvimento, a Corrupção, e que se empenhe lutando por um Moçambique próspero e ainda melhor. Em fim,  Eu tenho um sonho,  de um dia viver em um Moçambique livre da corrupção.

(Baseado no original discurso de Martin Luther King, 28/08/1963)

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Ausência


Ausência por dentro, ausência por fora
Momento em que até o sentimento me abandona
O calar do intenso silêncio em mim, agora aflora
Tento oferecer-me por instantes à memória
Mas o que era dantes, agora é apenas memória

Tenho saudades dos instantes antes de serem memórias
Mas o tempo evapora e arrasta a felicidade
Absorve as horas até não sobrarem instantes
Com um ente - querido ou um amigo que partiu
Através do qual o destino me seduz ao vazio

O desespero é razão da tristeza não qual mergulhei
Gastei a esperança em tantas mortes que chorei
O meu olho é a fonte da qual bebo a eterna dor
Me desacolho neste mesmo abrigo que ontem era amor

A solidão chama por mim sem precisar de abrir a boca
Escuto os passos do meu fim caminhando com força
Talvez uma amiga aproximar-me-ia das distâncias
Mas o sal da língua desaboreia-me as palavras
Desisto desta constante procura que não me acalma
Mas no íntimo, o sangue acaricia-me como se tivesse palma

Foi a fome de infinitos amores, que fez por dentro
As paredes do meu interior, ruínas com o telhado suspenso
Sofrendo o peso do seu sustento, permaneço
Sob o tempo que me vai lambendo sobre a pele os ferimentos

domingo, 18 de novembro de 2012

Que culpa temos nós?


                                                                             (Ao Jorge Viegas)


Gentil nossa alma,
Nossa esperança, dores, mágoas, enfim, roubadas.
Penúrias penduradas n’angústias
Desfeitas de graças.

Estas vaidades traduzidas nas danças de batuques marimba, enfim.
Oh! danças de ekuetthe danças desconhecidas!
- Será que não lembram destas danças?
- Isto é mesmo que não lembrar do filho desta terra esquecida ah!
Que esperança falhada nesta terra de moldes, desfeita de estragar tijolos de adobe!

Tristeza é a palavra que só se vos diz.
Nestes gritos esquecidos;
Gritos sem referentes, sem donos.

Ah! que tristeza nos acolhe nestes abrigos sem reflexos!
Que pena nos impedem de sonhar!
Esperança desfeita de mistérios dos magnos xicuembos.
Lily dos Amures

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Uma presente ausência de Liberdade


Antes de mais, dizer que, isto não é um poema como o habitual, muito menos a tal filosofia dos oprimidos ou descontentes, talvez uma lógica fora dos padrões da consciência impostos pelos 'sábios', ou então um exto do chão, com pobres palavras abandonadas por entre a poeira pela vaidade avulsa dos olhos, sem qualquer interesse ou regra (estranho... então porquê o escreves?)
Escrevo isto não sei porquê? Ah, já sei, apeteceu-me só escrever por escrever (era ridículo se só isso fosse). Não sei se é uma questão de linguagem ou 'deslinguagem' (não me limito à modelos lexicais), ou sei lá o quê!
Não obstante, a verdade é só uma, a liberdade propriamente dita, definitivamente é uma coisa quase 'inexistente' em muitos de nós, mesmo existindo. Somos livres, mas não o somos. Tão simples quanto isso. Ora vejamos: Vives numa sociedade em que 'nem não' tens poder de 'auto exploração', isto porque há padrões já 'determinados', os quais deves seguir, caso contrário, és 'fora de moda'. Pensando bem, isto não é precisamente viver numa sociedade, é viver de uma sociedade.
Diz-me: se não fazes o que é suposto, porque temes alguma represália ou então porque pretendes uma fácil integração social - és livre? Se o mundo ou a sociedade 'admira-te' pelo que ela mesma exige ou faz de ti
- És livre? Consideras-te livre por viveres a vida dos outros?
A liberdade não está no simples poder fazer. A liberdade vai muito para além do 'querer' o querido ou o já existente. A verdadeira liberdade, está no sentir e fazer sem temer.
Não preciso de abrir os olhos porque nunca os fechei. Não sou crítico, estou muito longe de ser um filósofo, mais longe ainda, estou eu de ser um visionário (tenho os olhos bem pequenos de nascença), mas esta minha alma não é pequena, então, vale a
pena (já disse o poeta). Repito 'não sou crítico'. Crítica é a forma como agem os 'menos instruídos' no meu país. Será inocência (não creio)? Músicos manipulados pelas mãos sem ofícios, de uma sociedade que alimenta as suas vontades através destes. A fome pela fama faz-lhes caírem em Câmara Lenta no ridículo. Costumo dizer: A causa da qual ontem foste defensor, é a mesma que hoje te oprime, simplesmente porque não tinhas causa, lutaste 'por causa de...' Acredite ou não, é isto que acontece com os nossos 'Músicos da Praça'. Os Músicos que não fazem música, fazem músicas. Talvez fazia sentido se fosse em busca de uma identidade, mas não. A busca é mesmo bem outra 'a igualdade' – O Altar da fama'. Sim, igualdade, porque nesta nossa 'Era do aparente' aquilo que parece, é que é, e é nisto que todos acreditam e correm atrás. Trocando em 'miúdos', a igualdade é condição sem a qual o 'reconhecimento' é somente uma pretensão. Trocando agora em 'miudinhos', é um dever fazer o que está na moda para ser alguém e se ter algum valor ou és isolado e desvalorizado como um qualquer. Confrontados, a resposta é comummente: o músico deve inovar.
Também, eu sou músico do povo. Eu sirvo o povo. Além do mais, este 'Phipol grama maningue disto'. Com que então, pergunto eu: - quem serve-te a ti? - Será que 'gramas maningue' tu também? - Achas-te livre por isso?
Por outro lado, miúdas humilhadamente corrompidas em troca de uma aparente posição social, algumas porque a amiga seguiu o mesmo caminho e não querem ficar atrás. Outras (muitas até), porque é a forma mais fácil de adquirir a última 'txuna baby' ou então os famosos cabelos mortos 'extensões' e manter o 'status' socialmente aceite, acabando muitas delas especializando-se na vida do 'sexo comercial' e sem pelo menos bocados de valor em plena menoridade. Confrontadas, a resposta é comummente: da
minha vida cuido eu, faço o que bem entendo e quero. E os teus pobres conselhos nada me darão, seu 'Zé Ninguém'. - É isso ser livre? Obrigo-me a mim a parar por aqui. Sei que todas estas palavras 'tão muitas' que escrevo, são palavras vazias que preenchem um momento 'criativo' gasto em vão, mas como anteriormente com orgulho disse o dito pelo poeta 'tudo vale a pena quando a alma não é pequena.
'Junguiando' um pouco através da questionável 'psicologia analítica', o que há mesmo de colectivo em mim, talvez só os 'arquétipos' ou experiências herdados dos meus antepassados 'Inconsciente Colectivo', mas a iniciativa pelo que faço é bem própria, está longe de partir de influências extras. Enfim, escrevo inicialmente por mim, aquilo que sinto. O que escrevo torna-se 'comum' apenas porque um sentimento pode ser recíproco ou abrangente. A liberdade vive dentro de nós e manifesta-se na iniciativa, na criação. Enquanto não nos explorarmos, nunca seremos livres.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

“Sonho em participar numa exposição de âmbito internacional”


Pés embora as dificuldades para expor suas obras nos eventos nacionais, Guivala, sonha em participar de uma exposição internacional. Com 21 anos de idade, Fernando Guivala é um artista plástico, nascido e residente na cidade de Maputo, formado em artes visuais pela Escola Nacional de Artes Visuais.    
Começa a pintar com 9 anos, quando frequentava a quinta classe, e entre as suas paixões encontra-se o desporto, especificamente o futebol, razão pela qual as suas obras retratam o panorama desportivo, tanto nacional como internacional, aliás segundo o artista, antes de descobrir o seu extraordinário talento pela arte, sonhava em ser um grande jogador de futebol.
Apesar do seu profundo e indiscutível amor pela arte plástica, Guivala, mostra-se infeliz com estado actual da arte em Moçambique, sendo que o maior problema para ele, cinge-se nas dificuldades em participar de exposições, por um lado devido ao número reduzido de eventos do género e por outro, pelo fraco interesse e falta de comprometimento das autoridades ligadas a arte no país.
“Sonho em participar numa exposição de âmbito internacional”, afirma Guivala, para quem os obstáculos no seu caminho artístico, são normais e portanto, vencidos pela sua paixão artística. 
Um talento indiscutivel 






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domingo, 11 de novembro de 2012

Vovó Maria respira de alívio: o filho voltou, mas doente! (Cap. II)


Dando continuidade ao primeiro capítulo que relata a vida de uma pobre velha que recebe seu filho de volta depois de 25 anos a viver na África do sul, publicado em Setembro de 2011.
Após o momento pouco agradável entre os dois pelas angústias que teriam tomado suas almas, vovó Maria viria a desfrutar de um certo sossego e alegria, na medida em que o perigo que ameaçava a vida do filho, parecia o ter marcado distância, razão suficiente para dizer que “só mesmo Deus sabe quando e onde paramos de viver”.     
A saúde do filho da pobre velha registava melhorias. Para vovó Maria, era como se nada tivesse acontecido no passado, orgulhava-se de vê-lo reencontrar a família e fazer novas amizades na zona, com as quais partilhava não só as memórias da terra do rand, mas também a sua vida em Moçambique antes da ida a terra do "cunhado Mandela". Vovó Maria aproveitou o momento para fazer parte da vida do filho que por 25 anos lhe criara muito sofrimento e desgosto, contudo, tinha acabado, pois podia abraça-lo sempre que pudesse e mesmo com idade muito avançada, ainda prestava-lhe pequenos serviços domésticos, cozinhando, lavando sua roupa, entre outros.  
Os dias foram passando, e naturalmente a saúde do filho da vovó registava algumas crises, mas ainda dava para aguentar, até porque, ele próprio sonhava com dias melhores tencionado começar tudo de novo. E dada a ansiedade de dar a volta por cima, o filho da vovó, não perdeu a oportunidade de fazer parte de um culto religioso denominado Dia D (Dia de Decisão) realizado pela Igreja Universal do Reino de Deus, no dia 26 de Setembro de 2011, cujo objectivo era de libertar as pessoas de males espirituais. Diante da profunda angústia que lhe sufocava o peito, o filho da vovó Maria, se fez presente ao famoso culto na esperança de obter saúde plena e paz consigo mesmo.
Não se sabe ao certo o que teria sucedido nos dias que se seguiram, mas suponho eu, que tenha sido desespero demais. A relação entre vovó Maria e seu filho, teria mergulhado numa crise caracterizada por acusações mútuas entre as partes, e surpreendentemente mesmo com a saúde que dava um rumo esperançoso, o filho da vovó Maria meteu-se no álcool. (cont.)

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

“Fotografias do Tempo” da autoria de Maxtungo Poeta


O poeta e rapper moçambicano Maxtungo Poeta, lança no próximo dia 17 de Novembro (sábado), no Centro Brasil – Moçambique, a sua primeira obra literária intitulada “Fotografias do Tempo”. Sob chancela da Editora Litera Cartão, a obra é produzida por meio de material reciclado, e é parte de um projecto inovador na produção de obras literárias que teve o seu início na Argélia, como forma de garantir a publicação e divulgação de escritores emergentes e com limitações financeiras. 
De acordo com Maxtungo, “ Fotografias do Tempo”, é um conjunto de poesias que constituem uma auto-reflexão num determinado momento, apresentada através de histórias fotografadas.
A semelhança do livro, Maxtungo, projecta lançar ainda este ano, o seu primeiro single de Hip Hop, que conta com cinco números musicais com destaque para “Hip Hop Jazz”, título do seu último trabalho e “Montanhade livros”, primeiro de estudo.