domingo, 14 de abril de 2013

Minerva, abre 78ª Feira do livro


A livraria Minerva abre próxima quinta-feira, dia 18 de Abril, na sua sede em Maputo a 78ª feira do Livro. Decorrendo de 18 de Abril a 4 de Maio, o evento tido como tradicional na história do país e da Minerva, coincide com a celebração do seu105º aniversário que este ano assinala.
A feira contará com um conjunto de actividades diversas, com destaque para o lançamento do livro “Minerva, 100 anos”, retrato de um século de vida da instituição, que conta com textos de Machado da Graça e investigação de António Sopa.
A cerimónia de inauguração contará com as presenças do Ministro da Cultura, Armando Artur, dos escritores Luís Bernardo Honwana, Lília Momplé, Suleiman Cassamo, Ungulani Ba Ka Khosa, Sónia Sultuane, Barnabé Nkomo, Dércio Pedro e Rinkel. Na mesma data, será inaugurada uma exposição documental - uma selecção de objectos, entre fotografias, máquinas de escrever, recortes de anúncios em jornais - livros raros, da responsabilidade de Ana Antunes e Rita Couto.
Outras acções associadas à feira serão uma caça ao tesouro na fortaleza de Maputo, uma actividade para a infância com presença de animadores, lançamentos de livros, uma sessão de poesia no dia internacional do livro, um concurso de escrita e uma homenagem ao escritor Luís Bernardo Honwana.
Com quase 1000 novos títulos, nas mais diversas áreas, a FEIRA contará com a participação de mais de 20 autores moçambicanos e tem parcerias com a Universidade Eduardo Mondlane, a Associação dos Escritores Moçambicanos, o Pelouro da Cultura do Conselho Municipal de Maputo, os Poetas d’Alma - ICMA, o Projecto Formiga Juju, o Projecto Ler para Crescer e a Plural Editores.
Fundada em 1908, a Livraria Minerva é a mais antiga do país, uma das três mais antigas do Continente africano.
"Minerva, Livros com História"

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Minha Vizinha!


Fazia tempo que o cruzamento dos nossos olhares resultava em uma tempestade “não sei direito” dolorosa, porém ao mesmo tempo agradável. Nunca havíamos trocado palavras, até porque acabara de me mudar para aquele bairro e portanto tomado pela vergonha não me expunha para aquela gente que pouco conhecia.
E mesmo dominado pela timidez que me ofuscava por dentro, uma coisa eu tinha certeza. Queria falar e conhecer minha vizinha. Não era para menos. Ela era extraordinariamente linda, corpo de “viola” como por cá se diz, sorriso ardente e contagiante, e a cada vez que eu a via descalça, sacudindo o calor em pleno passeio da sua casa, imaginava ciumentamente aquela arte de mulher desfilando numa das passarelas de Milão.

Pés embora, a decepção amorosa que tivera anteriormente, ainda me restou espaço e paciência para me atrair por ela, que para além de atraente revela-se mais experiente e bem vivida, contudo, mesmo assim pretendia ao menos dizer para ela “oi? …”. E foi assim que em direcção ao portão da minha casa, vindo de mais uma batalha diária, de repente uma voz que parecia alguma vez ter sussurrado ao meu ouvido durante um sonho, diz: olá? Ganhei susto, não pelo tom da voz, até porque era tão suave, mas pela forte energia que a mesma transmitiu-me deixando-me completamente paralítico tendo respondido apenas – oi, …! Gostaria de ter falado mais alguma coisa, mas o seu olhar e sorriso acompanhados pelo perfume que apimentava o local, me roubaram as palavras. Se não fosse pelo grito de alguém que da minha casa chamava por mim, confesso que teria seguido em frente passando pelo portão de casa despercebidamente.

Durante aquela tarde, a palma da mão não me saia da testa. Pensativo e feliz pelo que acontecera, no entanto, sentia-me desafiado, devendo também lhe dizer “oi?” e naturalmente de forma diferente.

Nos dias que se seguiram, fui lhe saudando da mesma forma como ela fizera, talvez com alguma coisa a mais, mas sem nada digno de realce. Infelizmente, a vida dura que carrego vai me roendo pouco a pouco a memória. E portanto, já não me lembro direito, apenas sei dizer que “num dia”…mas, num dia…a nossa saudação levou mais tempo que o habitual e no tal curto tempo, consegui lhe “roubar” com sucesso um convite para passar a tarde comigo.

Eh! Fazia bastante tempo que não recebia uma visita do género, nem me lembro da última vez que tal teria acontecido, e por isso estava tenso! Encontrava-me no quarto quando ela bateu a porta, e suado de tanta tensão e ansiedade, na minha inexperiente cortesia a recebi com todo carinho.

No quarto, com cada palavra trocada ia ganhando mais coragem, mas ao mesmo tempo ficava claro que ela era efectivamente mais vivida, o que sem dúvida me deixa receoso.

Durante a conversa fui lhe falando desabafadamente da minha me*** de vida, e ela das suas aventuras e perspectivas para o futuro, o que nalgum momento me deixava ciumento, pois ficava com impressão de que ela era muito mais feliz que eu. Entretanto, com ela aprendi que “talvez” devia parar de pensar como adulto, passar tempo comigo mesmo e me conhecer melhor, de forma a conquistar não só uma vida de sucesso, mas acima de tudo repleta de felicidade. Ela reconheceu e elogiou (o que ninguém me fazia por muito tempo), a minha entrega e objectividade no trabalho, contudo, disse me que sonhava grande de mais. Para ela, sonhar era bom, mas pensar planejando de forma concreta era ainda melhor e sobretudo objectivo.  

Já tinha ouvido alguma vez o que ela me dissera, porém parecia primeira vez e prometi-lhe tirar um tempo na minha vida para colocar as ideias no lugar.

Era um momento fantástico, e fabulosa era também a pessoa com que partilhava, linda e deslumbrante como se seus pais tivessem encomendado um médico-arquitecto para cuidar da gravidez. Com ela aí, o mundo podia acabar, era como se tivesse atingido o cúmulo da minha felicidade. E der repente enganado pelo movimento extraordinário de seus lábios, sou assaltado por um beijo. Um beijo! Um beijo! Mas um beijo! Beijo longo, que a cada segundo ia apertando cada vez mais meu íntimo, com a paixão reduzindo crescentemente a razão do meu ser. Ela me abraçava, me apertava como ninguém me fizera antes, enxugando toda paixão que a atormentava após ter me visto pela primeira vez. Nos “poucos” instantes que a razão me chamava, era presenteado por uma peça de roupa caindo no chão. Cama solteira que ficava cada vez mais solteira por nunca ter visto mais ninguém por lá além de mim, naquele momento ajeitava e aconchegava nossos corpos juntos como Adão e Eva.  

… após aquilo, os nossos olhares depararam se como se de duas crianças se tratassem, esperando por um castigo depois de uma grande asneira. Ainda houve aperitivo de piadinhas, mas o mais  evidente, era a felicidade entre ambos. Mesmo na minha ingenuidade naquilo, tinha certeza de que pelo menos lhe fizera feliz naquele momento.

Com receio de estragar tudo “não sei”, ela despediu-se e disse: até mais Jorge. Curiosamente era primeira vez que pronunciava meu nome, mas foi fantástico, parecia mais bonito do que é. Hehehe! "Tirei lhe" do quarto e ela deu-me um beijo na bochecha e ainda disse bem no meu ouvido – fique bem.

Não podia lhe acompanhar até ao portão, afinal de contas era minha vizinha. Quando voltei ao quarto, o som da música não era o mesmo, o perfume do quarto também aparentava alterado, tinha tudo mudado, sobretudo em mim.

E na esperança de a partir daquele momento poder contar com mais alguém para partilhar os sabores e dissabores da minha vida, fui desesperadamente surpreendido com a notícia que dava conta que ela tinha viajado. Tsk! Fiquei sabendo também que ela apenas estava aí desfrutando os últimos dias de férias académicas, e com o início do ano lectivo regressara ao estrangeiro para terminar os estudos.

Não tendo me contando nada sobre aquilo, tudo que acontecera entre nós, começou a perder sentido. O homem que mudara em menos de 24 horas, tinha mergulhado de novo numa estranha e sem precedentes decepção. No entanto, racionalmente sentia me bem e reconhecia que um dia tinha me tornado feliz.

Na esperança de um dia revê-la, assinei na minha cabeceira – Minha vizinha.