Nos dias que correm, vivemos numa sociedade quase que imbuída de contrastes, vícios de excentricidades, repressivas divergências que fecundam numerosos ataques verbais entre as diferentes gerações. Contudo, é por frente deste pano de fundo umbrático que se revela a vigente realidade, num período em que urge o resgate dos valores nacionais e sociais outrora cultivados com sangue, suor e lágrimas dos nossos ancestrais sobre esta jovem terra, que o tempo fê-los refém.
É certo que, nada obsta de nós como seres humanos livres, gozarmos dessa mesma liberdade para fazermos aquilo que bem entendemos e quando entendemos, desde que seja lícito, porém, há determinados comportamentos, determinadas atitudes que socialmente chocam com alguns princípios básicos e morais. A medida que crescemos é natural que em nós algo se altere, quer física, quer psicologicamente, sendo que a sociedade se move à velocidade dos passos das pessoas que nela se encontram inseridas, também é natural que surjam novas realidades diariamente, isto porque o Homem igualmente se transforma dia após dia. Por um lado há quem repreende, mas por outro, há sempre quem apoia a tempestuosa chuva de mudanças que vai caindo constantemente, submergindo e arrastando consigo a cultura, as tradições, os preceitos consuetudinários, enfim. Mas tudo o que se revela lúdico nesses nossos tempos altamente modernos, parece despir a lucidez de quem se deixa envolver.
Ouvi vezes sem conta como rituais transcendentais Hindus, o soprar dos típicos ensinamentos dos nossos mais velhos, a vida nos tempos de Samora no que respeita à civilização social, aos contornos dos maus caminhos trilhados, mas parece que essa velha música para o espírito, tivera desvanecido com o tempo junto dos seus ensinamentos. Era bom que isso fosse verdade, pelo menos para alguns, precisamente os mais novinhos, se for, então é para estes, talvez o maior fantasma de sempre. Exclamaria o meu pai “que juventude perdida!”, infelizmente também potencialmente, sou integrante dessa mesma sociedade jovem cujas escolhas azedas que nutri, a mantém nua de paladar pelas coisas verdadeiramente doces. Perguntas hoje, sobre as nossas tradições, sobre a essência do nosso país, nada returque, pois carece de bases e nem se predispõe a procura-las. Será que o nosso país nada tem de bom para desfrutar? Dúbio seria concordar, estaria a ser inerte tal como a sociedade actual julga estarem os princípios e as tradições, motivo pelo qual deles não partilham.
Dispomos cá entre nós, de maravilhosos ritmos e danças que carecem de exploração, mas não, preferimos beber de forma inebriante os pertences alheios, e até transformamo-los alegando a posterior serem nossos ou provindos das nossas raízes. É triste quando se tem oportunidade de progredir, insistir em regredir, no fundo isso só nos faz nalguns momentos cogitar que, também transportamos por dentro a mesma essência do nosso coiro. Até certo ponto, uma sociedade inquestionável é possível, tudo depende de nós mesmos.
Stélio Paúnde (Kolapso)
O seu artigo, meu caro Stélio, é frontal, directo e acima de tudo preocupante, o que faz com a que as sensibilidades humanas se sentam atingidas particular da pátria em questão, a nossa.
ResponderEliminarSe cultura é um complexo unitário que inclui: conhecimento, leis, crença, ética e as capacidades adquiridas pelo individuo na sociedade em que se encerre. (Eduard Taylon).
Partido desse conceito antropológico, quem de nós tem conhecimento mínimo de como a nossa cultura se forma e se mantém, quem respeita as nossas leis, quem de entre nós valoriza as nossas crenças, quanto a ética, do topo à base quem a tem?
Assim sendo vale a pena questionar. Somos um povo com cultura?