quarta-feira, 22 de junho de 2011

Escreve-se Independência e lê-se Dependência


Independência na minha modesta visão significa autonomia que um país tem para se auto-governar, elaborando políticas que se adequam ao contexto local, para a satisfação como prioridade aos que voluntariamente teriam elegido o governo em exercício. É nesse ambiente que o país para se auto-sustentar no âmbito da política externa, vai voluntariamente cooperar com os demais num processo que se traduzirá numa interdependência, que é uma relação que pressupõe a conjugação de esforços, para o alcance de um objectivo satisfatório para as partes envolvidas, contrariamente a dependência que traduz-se num atrelamento involuntário à uma orientação externa, que pode ser político económico e na pior das situações chegado mesmo a abranger ambos sectores.
Foi arquitectado uma estratégia de libertar Moçambique do domínio colonial, com o objectivo de alcançar a independência. Mas este objectivo continua sendo inatingível, e a condição para o alcance do mesmo objectivo, é que os moçambicanos teriam de se unir, mas essa tal condição foi sempre irrealizável. Existirá aqui uma relação de causa e efeito, em que a condição para libertar o país seria a união e a falta do mesmo teria comprometido o alcance desse mesmo objectivo?
A nossa percepção é a de que não, independentemente das contradições dos movimentos, desavenças dos actores evolvidos, na altura da luta pela independência do país, o objectivo foi alcançado, mas o que acontece é que o capitalismo ocidental, acaba gerado uma armadilha de dependência, aos países africanos, incluído o nosso, comprometendo deste modo a sua independência.
A dependência a que nos referimos neste artigo é a económica. Estando o nível de dependência do Governo em financiamento externo, nos 45% de Orçamento do Estado que traduz-se numa ajuda externa para reduzir os níveis de pobreza, para cobrir as áreas de infra-estruturais físicos e sociais e para o funcionamento de uma porção considerável de instituições públicas.
Dados de Banco Mundial constatam que Moçambique é mundialmente um dos países mais dependentes da ajuda externa. Esta situação apresenta um elevado risco de alienação dos interesses nacionais durante a elaboração e execução dos planos e estratégias do governo, incluído, as políticas públicas. Nesta lógica, a dependência económica influencia automaticamente na legitimidade política.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Uma Sociedade totalmente questionável


Nos dias que correm, vivemos numa sociedade quase que imbuída de contrastes, vícios de excentricidades, repressivas divergências que fecundam numerosos ataques verbais entre as diferentes gerações. Contudo, é por frente deste pano de fundo umbrático que se revela a vigente realidade, num período em que urge o resgate dos valores nacionais e sociais outrora cultivados com sangue, suor e lágrimas dos nossos ancestrais sobre esta jovem terra, que o tempo fê-los refém.
É certo que, nada obsta de nós como seres humanos livres, gozarmos dessa mesma liberdade para fazermos aquilo que bem entendemos e quando entendemos, desde que seja lícito, porém, há determinados comportamentos, determinadas atitudes que socialmente chocam com alguns princípios básicos e morais. A medida que crescemos é natural que em nós algo se altere, quer física, quer psicologicamente, sendo que a sociedade se move à velocidade dos passos das pessoas que nela se encontram inseridas, também é natural que surjam novas realidades diariamente, isto porque o Homem igualmente se transforma dia após dia. Por um lado há quem repreende, mas por outro, há sempre quem apoia a tempestuosa chuva de mudanças que vai caindo constantemente, submergindo e arrastando consigo a cultura, as tradições, os preceitos consuetudinários, enfim. Mas tudo o que se revela lúdico nesses nossos tempos altamente modernos, parece despir a lucidez de quem se deixa envolver.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Presidência aberta: uma análise dos discursos de Armando Guebuza

Desde a sua investidura, o presidente Armando Guebuza, nos seus discursos sempre deu ênfase a luta contra a pobreza em Moçambique, como tarefa de todos moçambicanos do Rovuma ao Maputo, do Índico ao Zumbo, destacando unidade nacional, como um instrumento indispensável para o sucesso de Moçambique nesta luta. A unidade nacional, passa pela revalorização dos heróis moçambicanos e reconstrução de lugares considerados históricos, como forma de juntar moçambicanos de diferentes origens, etnias, raças, religião, a lutar pelo mesmo fim: acabar com a pobreza em Moçambique. O presente texto, analisa os diferentes discursos de Guebuza, procurando perceber a essência e os objectivos, no contexto da chamada presidência aberta, com enfoque particular, na forma como o presidente trata as questões da pobreza, corrupção, crime, unidade nacional e da revalorização dos heróis nacionais.

O discurso sobre a pobreza
“Muitas vezes a mesma palavra já dançou com variadíssimos parceiros. Tantos que já não há festa sem que certas expressões abram o baile. Uma dessas palavras é a «pobreza». A pobreza já dançou com um par que se chamava «a década contra o subdesenvolvimento». Outro dançarino tinha por nome «a luta absoluta contra a pobreza». Agora, dança com alguém que se intitula «a luta contra a pobreza absoluta».”Mia Couto
De acordo com a Revista de investimentos, economia e negócios em Moçambique (2005) a eleição de Armando Emílio Guebuza como Presidente da Republica marcou o arranque de uma nova era em Moçambique. Segundo esta revista, à semelhança do discurso apresentado ao longo de toda a campanha, e na continuidade da política seguida por Joaquim Chissano, Armando Guebuza “escolheu” a luta contra a pobreza absoluta e a promoção de um crescimento da economia rápido e sustentável como objectivos centrais do seu programa. No que se refere particularmente a temática da pobreza, há uma considerável diferença na forma de abordar a questão se comparado com o seu antecessor Chissano. Guebuza, em seus discursos defende a pobreza como resultado, por um lado da carência, indisponibilidade, inacessibilidade ou insuficiência de serviços ou de infra-estruturas e por outro, um problema mental associado a ideias segundo as quais a pobreza é uma dádiva divina, sinónima de honestidade e de âmbito regional.
Na sua comunicação sobre a situação geral da Nação em 2006, o Presidente da República, procurando mostrar que a pobreza era um problema de todos moçambicanos, e que a satisfação das necessidades é encarada da mesma forma pelo governo, discursou nos seguintes termos:
A alegria que despertou a melhoria na disponibilidade de água, em quantidade e em qualidade na cidade de Inhambane foi idêntica à que assistimos nas cidades de Pemba, Tete e Quelimane quando os sistemas locais entraram em funcionamento” o que chamou de unidade nacional.
Para Guebuza, nenhuma parcela de Moçambique se pode considerar livre de uma ou de todas estas manifestações da pobreza, assim como nenhum cidadão se pode considerar imune aos efeitos destas manifestações sobre si, seu familiar, amigo ou vizinho, daí a razão fundamental para se considerar a luta contra a pobreza uma agenda de todos os moçambicanos, tanto no campo como na cidade.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

O limite da Desigualdade (O Chapa - 100)

Diariamente submete-mo-nos à circunstâncias inconvenientes sem sequer tomarmos posição alguma, porquanto, não sobra sequer espaço para tal, a promiscuidade dos desiguais é inevitável, pois o destino, o fim e o meio pelo qual se pretende alcança-los é único, com o efeito a supremacia se rende ao conformismo e a necessidade, que vem ao de cima.
Tudo inicia nas estações dos transportes semi-colectivos, vulgo “Chapa -100”, ou melhor, a cada estação “Paragem”. Aquele velho divisionismo entre as classes sociais, baixa e média parece evaporar nas horas de aperto, e o ego também vai junto. São horas a fio com os pés semeados sobre o piso infecundo da paragem, a espera de colher os respectivos frutos, neste caso “o Chapa”, e junto de nós há mais pessoas, partilhando o mesmo espaço e o mesmo objectivo, mas, parte deles ou quase todos, são desconhecidos e de diferentes castas, mas isso não é perspicaz aos olhos de quem pretende a todo o custo “matar o tempo” enquanto a lata do “Chapa” não chega. Ò, lata, pois é o que maior parte deles aparenta ser devido as péssimas condições que oferecem aos seus utentes. O único jeito de “matá-lo”, muita das vezes tem sido na conversa, palavras embrulhadas por entre a língua, no verbo suave e sorridente que por vezes ocultam o cinismo. Podem até ser falsas as intervenções concebidas nestes momentos, mas a verdade é que a fastidiosa desigualdade conhece o seu limite. Alguns intervêm porque não sabem ao certo se o local aonde se encontram, é a “Paragem” ideal para alcançarem o “Chapa” que os levará junto do destino que pretendem, outros pelo desespero da longa espera, outros, ainda, poucos, nem por isso, fazem-no apenas por simpatia.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Bem-haja Minerva Central

Decorreu em Maputo, de 14 de Abril a 30 de Maio do corrente ano, uma feira do livro em comemoração do 103º aniversário Livraria Minerva Central. O nosso clube acompanhou todos momentos marcantes deste grande evento, até por que semanalmente, ia reportando neste espaço o desenrolar do mesmo. Talvez não fosse mais necessário escrever sobre isso, contudo, sinto me forçado a dizer pelo menos um “Obrigado” a Minerva central, não só pelos convites, mas, acima de tudo pela oportunidade de aprender, divertir, sorrir, imaginar, pensar, conhecer, enfim “Viver” que todos nós presentes tivemos.    
Foram cerca de 6 semanas de momentos inesquecíveis, que de certeza marcaram a cada presente. No dia 14 de Abril, por volta das 18 horas e 30 minutos, o primeiro-ministro Aires Ali, dava como iniciada a feira, com as seguintes palavras:
“É sempre um prazer estar mais uma vez nesta casa, para dar início a mais uma feira do livro, antes de mais, os meus parabéns a Minerva pelo aniversário e pela iniciativa…”
Estava deste modo, iniciada a feira. Naquele dia, os nossos ouvidos ainda tiveram oportunidade de “saborear”, isso aí mesmo “saborear”, o francês de sua excelência embaixador da França, que se fez também presente nas cerimónias, que sem querer, deixava revelar seu agrado e entusiasmo pelo evento, que aliás, para além da presença de figuras nacionais, entre académicos, escritores, artistas, e outras, estava colorido de sons a batucadas de um grupo cultural de um dos bairros da cidade de Maputo.
Ainda registei neste dia, como não devia de ser, o momento das comas e bebas, Hum! Foi simplesmente fantástico. Terminava assim, a cerimónia de abertura da Feira, deixando enormes expectativas, que francamente falando, não foram frustradas, mas simplesmente superadas.
Os dias que seguiram foram marcados por encontros, lançamentos, conversas, projecção de filmes, e muito mais.