segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O amor como reencontro de duas subjectividades

Há na vida e ao redor da nossa pacata mundividência coisas que são em si já um sustentáculo do nosso caminhar – na verdade, uma vida, uma história; há expressões que pelo nome que levam, já nos são milenares; carregam consigo septernas civilizações e contornos de idades que se foram e se vão, desvãos de histórias e historietas em que algumas como estas com tamanho de um punhado cerrado de vergonha que até hoje nos sustentam e ainda com seus delicados contornos sabem com maior naturalidade e satisfação transportados até nós, segredarem-nos dos obstáculos que a evolução não lhe poupou de represálias e concatenações. Evolução, não somente da espécie mas também dos temos que fazem connosco uma historia e conferem ao homem não uma natureza já existente, pré-determinada como nos dizia Hegel no seu Idealismo Absoluto, mas uma oportunidade única e irrepetível, única e inefável – uma verdadeira epifania de possibilidades que a vida nos da para que cada amanhecer do Sol nos possamos tornar novas pessoas e buscar dentro de nós, a imortalidade que se nos apresenta como a penetração profunda e incansável para dentro das nossas esferas que se diga com maior modéstia – geológicas.
É dentro destas esferas geológicas onde morra a voz mais baixa que só a conseguimos ouvir quando buscamos o que Plotino chamou de libertar-se do mundo das coisas e atingir o êxtase da nossa realização, o Nirvana do Buda ao se converter numa suprema liberdade que é factor primacial para todas as realizações. O amor, também é assim. Aquela complexidade sem a qual não nos sabemos definir como sujeitos únicos e singulares, pessoas abertas não somente para elas como simplesmente se pode traduzir no monólogo hegeliano mas para o mundo, para o outro, um ser antropológico de Feuerbach e um Outro de nível teológico de Kierkegaard porque o amor como dimensão primeira da humanidade e da formação de autênticas humanidades de pessoas é mesmo esta alteridade dupla: respeito pelo homem semelhante de cada um de nós e um profundo respeito por Deus – primeira natureza de João Escoto de Erígena na medida em que não tendo ela princípio é a causa principal de tudo que dela procede sendo em si, principio, meio e fim.
Na verdade tenho vindo a sentir bastante que as sociedades pós-tradicionais como nos prefere dizer Habermas ou por outro lado, as pós-modernas como também com tamanha predilexidade e agudez prefere Lyotard caminha para uma fome de sentido da sua existência, para uma falta de significação e ainda, para um mundo de vazio totalmente destruído pela supremacia da razão humana que se faz acompanhar pela forte dialéctica da ciência e a técnica em que a hoje, as tecnociencias contemporâneas são a sua continuação. Hoje, o refúgio para o prazer sexual como sinonímia de amor – reencontro profundo de duas subjectividades tem sido o espelho das avenidas e praças que percorremos buscando fazer uma história única e construindo um sentido não dogmático mas um sentido que é passível de eternos reajustes e correcções porque o homem é este ser existente e subsistente, um ser que a cada passo busca traçar da melhor forma possível o seu destino de vida. Porem, há daqueles momentos em que para nos compreendermos como pessoas coexistentes ainda que com muita vergonha esta coexistência hoje esteja em função do poder, é importante voltar e buscar aquilo que foi um passado ainda o tão remoto e longínquo como o mito de Aristófanes segundo o qual, no inicio, os seres eram duplos e esféricos e os sexos eram três: um constituído por duas metades masculinas; outro por duas metades femininas; e o terceiro, andrógino, metade masculino, metade feminino. Com a ousadia de desafiar os deus e colocarem-se no centro de toda a realização, Zeus não mandou, por si, cortou-os em dois para enfraquece-los. Assim, cada ser tinha que procurar o outro para se completar e com isso, buscar a sua primitividade e unicidade. Desta tentativa de rebuscar o ser original na busca do outro, nasce o amor recíproco que nos lança a unir-se com o outro ou simplesmente como Sócrates nos diz, o amor, representa um anelo de qualquer coisa que não se tem mas ao mesmo tempo se deseja ter.
Lamentavelmente é na verdade, a despersonalização do amor e ainda do próprio sexo que é o clímax de todas as realizações. Mas esta realização passa a não ter sentido da sua pratica quando feita para divertir ou mesmo passar o tempo. Quando em palavras como estas que neste instante as profiro digo que o amor é o encontro das subjectividades quero ao mesmo tempo dizer que o amor é a união e não o uso da pessoa humana como instrumento de prazer como o que se tem notado quando supostamente afirmamos o nosso amor ter se acabado e refugiamo-nos à busca exclusivamente de prazer para satisfação individual e não para a realização e contemplação de um invento único e indescritível que eleva não só a felicidade e a complementaridade das pessoas mas guarda o respeito por cada gesto e por cada acto que deste nos chega. O amor é um continuo descobrir-se e um continuo reajustar-se junto com e nunca sem com porque ele é a manifestação superior da pessoa humana enquanto um ser pensante e dotado de sentidos para sentir o impulso supremo e divino de cada movimento e de cada transformação que o amor se nos oferece para cada dia depositar um voto de vida ao passos que descrevemos e formamos como pessoas singulares e únicas. Uma coisa tenho dito todas as vezes em que me encontro diante de semelhantes que ninguém desenha ou forma um padrão de valores e princípios sem não com e por amor; ninguém na verdade se pode dizer como tal se não por um amor porque só este é que tem as capacidades de fazer com que as pessoas dispam as oligarquias que carregam; fazer que as pessoas se tornem pequenas criaturas inocentes. Este, tornar-se pequenas criaturas faz com que todos sejamos iguais perante o amor – pobre, rico, tolo, néscio e ainda inteligente sintam de maneiras diferentes o mesmo sentido das coisas que lhes leva a viver e a acreditarem ser ao menos crias da primeira natureza. Este reconhecer a grandeza das coisas é o exercício eterno dum auto-comensurar-se perante as querelas da vida, um eterno retorno nietzscheano.

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