“O homem político tem a responsabilidade de adoptar soluções politicamente viáveis ao povo, neste ponto difere do cientista político que procede cientificamente, se esforça por descobrir as razões do comportamento político dos que tem o poder ao seu cargo”. (Dimitri Lavroff, 1975).
Comecei este artigo por citar a frase do Lavroff, como forma de mostrar as responsabilidades do político e as competências do cientista político, mas a minha grande preocupação prende-se com o título do artigo, que cá entre nós são as expectativas do povo.
Com o objectivo de problematizar o título deste artigo, pelo facto de existirem partidos cujo cenário político é por si arquitectado e deste modo agem para satisfazer os seus interesses particulares, partido desse quadro, porquê não pensar em criar um partido que possa agir no sentido de satisfazer a colectividade.
Meus caros leitores, se a minha sugestão è radical, então o que acham do nosso campo politico?
Segundo Bourdieu (s.d.) campo político é o lugar em que se geram, na concorrência entre os agentes que nele se acham envolvidos, produtos políticos, problemas, programas, analises, comentários, conceitos, acontecimentos, entre os quais os cidadãos comuns, reduzidos ao estatuto de “consumidores”, devem escolher, com probabilidades de mal-entendido tanto maiores quanto mais afastados estão do lugar de produção.
O nosso campo político é caracterizado por um monopólio, em que a concentração do capital político está nas mãos de uma elite denominada partido FRELIMO, partido conhecido pelas suas vitória retumbantes, justas ou não são sempre vitórias, uma vez que acabam sendo reconhecidas e por conseguinte oficializadas.
O que eu estranho na verdade é a existência de partidos políticos, em particular no nosso campo político, para quem a passagem à vitória é lógica e, por conseguinte, inevitável. “Julgam-se insubstituíveis, profetas. Profetizam uma interna vitória curiosamente esse cenário acontece num estado democrático, caracterizado por um sistema pluripartidário”.
Em momentos de lucidez, chego mesmo a pensar, que esse partido foi criado só para vitórias e que essa é a sua especialidade, de sublinhar que antes de concorrer os resultados já são conhecidos. Isto é tão estranho, como por exemplo, a fundação de um partido especializado na radicalização da pobreza.
O verdadeiro propósito desse argumento é negar a objectividade das vitórias preconcebidas do nosso grande partido. Claro sem com isso querer tirar o mérito, pois os factores como a capacidade de mobilização, a detecção dum capital político, económico muito forte e também a fraqueza dos adversários, podem contribuir favoravelmente para esse cenário.
Mas há um factor inquietante no meio disso tudo, se não vejamos. Desde que esse partido existe e é reconhecido como tal, em momentos de eleições nas suas propostas, esta lá a radicalização da pobreza, como um dos objectivos prioritários desse partido e o que inversamente acontece é que as vitorias sempre acabam acontecendo e o partido avança, mas o índice da pobreza contínua e em alguns momentos chega a subir.
No país ainda há fome. Pelas ruas vagueiam crianças, e milhões de homens em diversas partes do país, são obrigados a sujeitar-se aos trabalhos pensados para ganhar o pão de cada dia. Em muitos lugares o principal instrumento de agricultura continua a ser a enxada.
Centenas de milhões de pessoas são analfabetas. O desemprego engrossa o exército de muitos milhões de desempregados; neste mesmo exército, ao terminar os estudos, alistam-se muitos jovens universitários sem já mais terem conhecido as alegrias e as amarguras do trabalho; como há centenas de anos, as mães, nas suas canções de embalar, sonham com a felicidade dos filhos, que estes nunca conheçam a fome e a miséria, mas esses são sonhos do povo e que para os partidos não passa de simples manifestos eleitorais.
Mediante esse cenário, fica claro que o nosso partido formula propostas políticas para vencer eleições, mas contudo não procura vence-las para realizar as propostas políticas.
Mas porquê a tendência em votar no mesmo partido, tendo as nossas necessidades não satisfeitas. As causas advêm dos dois lados. Dum lado temos o partido evolvido na seguinte lógica: os partidos políticos tendem a manter posições ideológicas que são consistentes ao longo do tempo, a menos que sofram derrotas drásticas. Derrotas que oficialmente nunca foram verificadas no nosso campo político.
E do outro lado temos os eleitores. A miséria que se prende a uma esperança é tida como uma das causas, nesse caso o partido fórmula propostas que vão atingir directamente na ferida do eleitor atiçado as sua expectativas. Este ponto è reforçado por Antony Downs (1958), segundo ele, os partidos de modo a atingir seus fins privados, formulam as políticas que acreditam que lhes trarão mais votos, assim como os empresários produzem produtos que acreditam que lhes trarão mais lucros pela mesma razão.
Uma outra causa seria sem dúvida a incerteza que os outros partidos transmitem, o medo de nos tornar mais pobre do que já somos.
“Os cidadãos votam no partido que acreditam que lhes proporcionará uma maior renda de utilidade do que qualquer outro durante o próximo período eleitoral”. (A. Downs, 1958).
De entre, as várias qualidades que esse partido pode ter, a maior delas é sem dúvida a sua fé, sem esse pressuposto não é possível lutar pelos nossos ideais nem faz sentido esperar pelos resultados satisfatórios, pois a fé é o motor que vibra contagiado a vontade humana em vencer.
“Em nosso tempo de muitas conquistas científicas tornou-se costumeiro fazer pouco da fé em comparação com o intelecto. O conhecimento é encarado como algo de base sólida, positivo e completamente objectivo. Fé, de outro lado, é considerada ser arbitrária, subjectiva e não provada. No entanto, tanto alta confiança em conhecimento científico, quanto menosprezar a fé são lamentáveis ideias erróneas”. (Mileant Alexadre, 2004)
A fé na determinação das vitórias é preciso ser transformada num instrumento que possibilite a radicalização da pobreza e o partido ganhador é que deve encabeçar essa luta, e deixar de ser um partido oligárquico, especializados em vitórias retumbantes e em não realizar as suas propostas políticas. A primeira luta que deve ser empreendida é a radicalização da pobreza e as vitórias viram por si só, revestidas duma legitimidade inquestionável.
Estou em crer que há uma confusão no significado do termo "radicalizar", com o sentido desejável do artigo. Gostaria de perceber melhor o que significa radicalizar e se não estaria a confundir com erradicar.
ResponderEliminarEm segundo lugar, poderia perguntar: o que o faz querer negar as vitórias de quem está no poder hoje?
Terceiro, quantos níveis de análise estará a usar? Não consigo perceber se estará a atribuir a culpa pelo baixo nível de desenvolvimento aos partidos políticos ou à FRELIMO, exclusivamente.
Agradeço a atenção.
Antes agradecer pela atenção, estás certo no primeiro aspecto, há uma confusão no sentido radicalizar para aquilo que é o objectivo do artigo, o termo certo é erradicar que é “acabar”, “fazer desaparecer”, a confusão foi “rectificada” uma semana depois da publicação.
ResponderEliminarEm segundo lugar não nego as vitórias do partido no poder, a prova disso em algum momento no artigo chego a trazer elementos que podem estar por de trás dessas vitórias, como é o caso da capacidade de mobilizar as massas associada ao poderio económico mas há “um porém”, as vitorias desse partido são pré-concebidas, o que me parece que as eleições só aparecem para confirmar, o que não chega a ser transparente, muito menos justo. Para mais informação visite o historial das eleições em Moçambique.
Não culpo a FRELIMO pelo baixo nível de desenvolvimento, mas problematizo o facto do partido estar no poder desde sempre e ter como objectivo reduzir a pobreza mas que contrariamente o índice da pobreza está a aumentar. Será que o partido não consegue cumprir com o seu papel por uma questão de incapacidade ou é por falta de vontade política, quanto aos outros partidos não me refiro a eles simplesmente porque ainda não foram posto à prova.
Mais uma vez, muito obrigado pela atenção.
Pedro Munguambe