domingo, 2 de outubro de 2011

Carta à Deus pai todo-poderoso

…pai, não sei mesmo por onde começar, entretanto, a única coisa que tenho certeza é que muitas são as inquietações que por dentro me afligem. Diferentemente, dos meus encontros diários consigo, em que geralmente lhe peço perdão pelos meus erros, força e protecção para mim e para minha família, desta vez decidi fazer algo talvez “anormal”, lhe reportar um pouco daquilo que estou a viver aqui na terra e por que não, pedir algumas explicações acerca “desta vida”. Estou ciente das consequências que isto pode me causar, pois, a sagrada bíblia diz que não podemos duvidar de Deus, nem questionar seus feitos, mas porque eu acho que esta pequena carta, não é sinónima de dúvida para com a sua pessoa, então vou lhe pedir algumas explicações sobre a nossa vida neste planeta denominado “terra”.
Passam hoje dois mil anos e alguma coisa, após o senhor ter enviado seu filho Jesus Cristo, com a missão de vir nos salvar. Missão comprida ou não, a verdade é que segundo a bíblia, ele sofreu e morreu por nós. A partida dele aos céus, por um lado criou muita dor e sofrimento, mas por outro, deixou um grande legado para os homens - os ensinamentos sobre o caminho da verdade e da vida, que de acordo com a sagrada escritura, nos levariam a salvação eterna.
Contudo, passado algum tempo e até ao presente momento, assistiu-se a construção de uma humanidade perigosa, imbuída de egoísmo e de muita futilidade. Uma humanidade de seres com prazer de criar sofrimento a outrem.
Se a bíblia defende que o homem foi criado a imagem e semelhança de Deus, e que todos os homens são iguais, porque é que há diferentes raças nos humanos? Porque alguns se acham de mais importantes que outros? Até porque, determinadas cores de pele são associadas ao sofrimento, a pobreza, a fraqueza, ao desconhecimento, enfim, a toda indignidade e obscenidade que a ninguém merecem.
Como é que um humano como eu, de carne e osso, alma e espírito, vai me impor sua forma de vida, dizendo que é o protótipo a seguir?
No meu entender, Deus criou o mundo e repartiu-o dando a cada um, de acordo com a “maldita” cor de pele o que merecia. Mas, aqui neste planeta, há quem se acha superior a todos, que se hoje decidir que o meu maravilhoso povo moçambicano, que enganosamente pensa que é soberano, deve sumir do mapa, em menos de horas, isto se efectiva. E mais engraçado meu Deus, é que estes indivíduos, dia pós dia, engajam-se aparentemente lutando pelo bem da humanidade, apresentado belíssimos projectos para educação, saúde, etc, mas em contrapartida, as doenças e os problemas que afectam os povos pobres nunca encontram solução.
É incrível que em algumas sociedades, quando alguém tem bens em abundância, se for funcionário estatal é chamado de corrupto, e se for empresário particular é traficante de drogas ou de órgãos humanos…será que ninguém pode enriquecer pelo trabalho?
Oh Deus, é este o mundo que pretendia construir? De dominadores e dominados? De extrema desconfiança entre os homens? De serpentes maliciosas fingidas de heróis? Não será este um projecto falhado?
Se o caminho da verdade e da vida, está em nós memos, porque é que cada dia que passa, o mundo vai sendo poluído por "profetas" de diferentes confissões religiosas, mas que se dizem defender o mesmo fim - a salvação humana!
Neste momento que lhe escrevo esta carta, me encontro incerto de tudo e de todos, o perigo me rodeia por tudo que é lado e canto, desde a criminalidade, efemeridades, desastres humanos e naturais, entre muitas outras maldades que nem sei explicar. A incerteza vem até a mim, não só pelo perigo que minha vida corre a cada segundo que respiro, mas também porque, aqui na terra, apenas os mais fortes é que aparentemente se dão bem. Não imagina Deus, o número de suicídios pelo mundo inteiro… de pessoas que optam em tirar suas próprias vidas, por razões que só eles sabem, mas que com certeza não é por algo bom.
Já que a vida na terra, é significado de competição, hum…, acho melhor parar por aqui, na medida em que, pelo tempo que me dediquei lhe escrevendo, a carruagem já vai me deixando, para um destino que francamente o desconheço, apenas ciente de que um dia vou morrer. E dado que um dia deixarei este lugar definitivamente, as outras tantas questões que me apertam o peito e me dão insónia diariamente, irei lhe apresentar no dia do meu julgamento final.
…sem mais a acrescer, até breve meu pai todo-poderoso. Do seu filho “amado” Ofice Jorge.
Comentários
2 Comentários

2 comentários:

  1. Não sei de onde veio a inspiração para escreveres algo tão inédito, que por questões de tempo não tinha lido, mas que desde já te digo e parabolizo, tocaste na alma humana. É realmente extraordinário, quem me dera que todos os homens que habitam nesse planeta tivesse a noção da necessidade de dialogar nem que seja em pensamentos com Deus, acredite o mundo serio mais ou menos iluminado, porque não sei se percebes há uma luz nessas palavras em forma de um artigo, é como se estivesses a conversar e imagino muito bem como se sentiste depois de terminares o artigo, aliviado sem duvida essa é a expressão certa.
    Desde ja, sendo eu um catequista lhe prometo que abrirei a minha próxima catequese com a leitura desse artigo e mais uma vez os meus parabéns.

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  2. Muito obrigado. Ontem quando comentava com um amigo sobre ao artigo, me questionei se Deus teria recebido a carta ou não, mas agora não tenho dúvidas que de facto recebeu, a considerar pelo seu comentário…e talvez a resposta encontrarei no dia do meu julgamento final.

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