segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Educação – para as desigualdades e hierarquias de classes ou para a libertação do homem?!...

O objectivo da educação não é produzir meros estudiosos, técnicos e caçadores de empregos, mas sim homens e mulheres íntegros, livres de medo; porque só entre seres humanos assim é que pode existir paz duradoura (Krishnamurti)
É incontestável para os nossos dias que as questões éticas do nosso tempo constituem um desafio para qualquer Universidade empenhada numa missão Pedagógica que engloba mais do que o desenvolvimento e a divulgação do conhecimento empírico e das técnicas[1], a promoção e o resgate do ideal humano dentro das matrizes traçadas para o alcance das suas metas, não com tons fáuvicos do tipo Matisse do Outono de 1905 e nem muito ainda, com o orgulho das Luzes, mas com uma nova concepção da modernidade, menos orgulhosa a esta, capaz de resistir à diversidade absoluta das culturas e dos indivíduos. Senão repararmos a fundamentalidade de factores ou aspectos desta natureza que se nos aparecem como infinidades de coisas pequenas e minúsculas, entraremos em tempestades ainda mais violentas do que as que acompanharam a queda dos Antigos Regimes, da concentração e extermínio de Auscchwitz, das invasões russas de Berlim, Budapeste, Praga, Polónia, das guerras do Vietname e do Golfo Pérsico, dos coetâneos ataques do 11 de Setembro e das actuais crises no Norte da África senão algumas; por isso, o importante papel da Universidade no incentivo à problematização ética "não para anunciar um conjunto de doutrinas destinadas à sociedade, mas sim para assegurar que estudantes e o pessoal académico chamem sempre a nossa atenção para os problemas importantes da humanidade – e para que dêem continuidade à busca de alternativas".
Sendo assim, o campo cultural e social no qual vivemos, desde o final do século XIX, na abordagem de Touraine (1992:p.122) não possui unidade: não constitui uma nova etapa da modernidade, mas a sua decomposição. Talvez nenhuma civilização tivesse sentido tanto a necessidade de um princípio central, já que nenhuma grande religião exerce uma influência dominante sobre esta cultura secularizada, onde a separação entre as Igrejas e o Estado é o princípio essencial. Talvez ainda devamos acreditar que pelo desencantamento do mundo, as pirâmides da Educação tenham-se igualmente demolidas e ficado sem mais poder para erigir toda uma desconstrução levada pelo tempo.
Ninguém, ainda os mais leigos na matéria da vida não consiga ver e sentir que a racionalidade capitalista é puramente instrumental, baseada como Bodei (1997:p.58) diz, na eficácia, na destruição das certezas receptoras tradicionais, no controlo e no refrear da emotividade, no pôr entre parêntesis o significado geral dos outros valores. Por isso, é visível em todos os quadrantes que:
O Estado e a sociedade organizam-se com os mesmos critérios da empresa capitalista e o mundo desencantou-se, foi privado dos seus fundos mágicos, tornou-se mais seguro, ordenado, calculável e cientificamente compreensível. A religião – que foi o primeiro órgão poderoso de doação de sentido ao mundo e que, na sua indumentária calvinista – parece ter-se retirado para a vida privada, convertida em instrumento de turva consolação (BODEI; 1997:p.59).
Diante desta crescente onda do capitalismo, do liberalismo económico, a educação passou a ser de igual modo, capitalista e liberal. Os fundamentos únicos duma educação do tipo grega ou clássica que tinha como seu fim último a formação integral do homem em todas as suas dimensões, hoje é trocada por uma cada vez mais pior no seu sentido evolutivo, uma educação numérica e de especialidades formatando as mentes e moldando-as em função dos seus objectivos instrumentais. Parece que é precisamente assim que toma rumo a Educação. Como cada indivíduo no momento da morte, sobrevive apenas no coração daqueles que o amam e sofrem a sua perda[2], a Educação levada ao túmulo, ficará em cada um de nós, um sentimento nostálgico do seu fim que é de libertar o homem de diversas coordenadas e cruzamentos da vida e não ao contrário disto.
Por isso, concordamos com A. Saint-Exupéry ao afirmar que qualquer que seja a urgência da acção, é-nos proibido esquecer, sob pena desta acção ficar estéril, a vocação que a deve orientar. Nisto, a educação tendo perdido a sua especial vocação, a bússola norteadora e doadora de sentido, ninguém ignora, graças a Bourdieu e Passeron (1970), que o sistema de ensino reproduz as desigualdades e as hierarquias entre classes sociais. Em certos períodos da história, a estabilidade importa mais do que a mudança, e as sociedades esperam do seu sistema escolar a perpetuação das tradições, a herança feita de valores e de conhecimentos, mais do que a preparação para um futuro diferente (Thurler & Perrenoud; 1994:p.12) sendo que, a educação convencional hoje, dificulta extremamente o pensamento livre – o conformismo leva a mediocridade.
Agora, qual é o significado da vida? Para que vivemos e lutamos? Se estamos a ser educados meramente para obtermos distinção, para buscar um emprego que nos seja melhor, para que a eficiência seja o nosso quotidiano, para ter maior domínio sobre os outros. Se esta é a finalidade da nossa educação, a nossa vida não se vai diferenciar de um punhado vazio. Se estamos a ser educados apenas para ser cientistas, estudiosos cansados com livros, ou especialistas viciados em conhecimento, então estamos a contribuir para a destruição do mundo. Por isso, na mesma abordagem de Carvalho et al. (1990:p.319), ainda que tenhamos sido muito educados, mas, se não somos capazes de uma profunda integração de pensamentos e sentimentos, as nossas vidas são incompletas, contraditórias e angustiadas com muitos medos; e desde que a educação não cultive uma visão integrada da vida, tem muito pouco significado. Assim, o espírito de compartimentos de conhecimentos leva ao homem a fechar-se no seu pequeno mundo, a não abrir-se para os outros e comunicar as suas experiências. Por isso, a educação não pode ser um simples fenómeno de treinar a mente, mas, um fenómeno de libertar o homem para a comunicação intra e intersubjectiva.
Se para descobrirmos o significado e a correcta educação para todos os tempos, devemos antes questionarmo-nos sobre o significado da nossa própria vida. Por isso, J. Krishnamurti dirá que:
A educação deve ajudar-nos a descobrir os valores que persistem, de modo a que não nos limitemos a agarrar-nos a fórmulas ou a repetir slogans; deve ajudar-nos a derrubar as nossas barreiras nacionais e sociais, em vez de as relacionar, porque elas geram o antagonismo entre os homens. (…) Sem a compreensão integrada da vida, os nossos problemas individuais e colectivos irão apenas aprofundar-se e aniquilar-se. O objectivo da educação não é produzir meros estudiosos, técnicos e caçadores de empregos, mas sim homens e mulheres íntegros, livres de medo; porque só entre seres humanos assim é que pode existir paz duradoura.
E porque a nossa instituição escolar confronta-se com várias crises, face a pluralidade de agentes, de requisições sociais e de expectativas que dela se esperam, somos levados a questionar os modos, práticas e organizações destas instituições; as mutações sociais e os imprevisíveis futuros interrogam constantemente os saberes e competências; submetida à estas diversas manifestações, resta-nos como forma do nosso ponto final recordar um grupo da escola de Genebra que esboçou cinco pontos para reformar o ensino como a democratização do acesso ao conhecimento, a educação para uma sociedade pluralista e aberta, reencontrar a unidade da cultura geral, a diversificação das formas de acesso ao saber e a verificação do funcionamento do sistema escolar.

[1]TOYLOR, Charles., Multiculturalismo. Ed. Instituto Piaget. Lisboa. 1994
[2]  ALBERONI, Francesco., Árvore da vida. Ed. Relógio D' Agua. Lisboa. 1991
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  1. Sugestivo o tema do seu artigo caro jovem, para já os meus sinceros parabéns. Todos nós sambemos o quão é importante a educação na formação dum um homem capaz de responder com os desafios dum povo, país do mundo no geral e também é do nosso conhecimento que a família é o núcleo do Estado, já nos foi referido pelo Platão que é nas famílias onde educaremos o homem que servirá o Estado, ou seja uma família comprometido com a educação dos filhos significa uma mais valia para o Estado. E ja dentro da sociedade é necessário que o próprio Estado promova uma educação pluralista, abrangente acima de tudo de qualidade e como ficou expresso no seu artigo uma educação de questionamento e não de repetição. Mas infelizmente esse é o modelo ideal e receio em dizer utópico pelo menos no nosso contexto. Se não vejamos Moçambique é um dos países mais pobres do mundo que depende em grande parte da ajuda externa para materializar as sua politicas, a titulo de exemplo temos o PARPA que é uma politica multissectorial, espelhado os ODM´s onde um dos objectivos é alfabetizar todos os moçambicanos pelo menos até 2025 e para que se consiga alcançar esse objectivo o acesso a escola pelo menos o ensino básico a passagem é automático. Que qualidade espera neste deixa passar? Esse espírito é transportado para o ensino superior onde o profissionalismo cede lugar as simpatias provocado desigualdades.

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