quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Para que servem as Universidades?


Quando era estudante no ensino secundário, enchia-me de expectativas positivas a respeito da universidade em Maputo, acreditando encontrar, depois de admitido, um espaço consagrado por excelência para expandir a inteligência, aprender a aprender, discutir, opinar livremente, etc. Tudo isso foi logo desmentido pela realidade.
Desde que entrei para a universidade e à medida que os tempos correm, desiludo-me continuamente. A petulância de alguns professores, os métodos de ensino inadequados, a escassez de meios e as intoleráveis condições para o estudo, a falta de perspectivas, tudo isso transforma o nosso futuro numa grande incerteza, pior do que seria de outro modo. A universidade era, no meu imaginário, uma coisa completamente diferente daquilo que encontrei. Tinha uma compreensão ilusória que resultava de ideias que me iam inculcando os que tinham tido experiências no ensino superior e do que via nos filmes ou lia nos livros. Foi um choque enorme ter descoberto, alguns meses depois de entrar, que a universidade, pelo menos como a imaginava, era uma esperança irrealizável. Ao fim de oito meses contava a um amigo os primeiros episódios frustrantes.
Contanto que teria, à frente, mais anos de estudo, podia esperar dias melhores, pensava. Mas não melhorou, antes pelo contrário. Este texto tem um tom confessional, já perceberam. Mas o tom confessional que tomou explica-se porque o assunto me toca particularmente. Imaginem, leitores, como é ter todas as esperanças assassinadas. Nos últimos dias foram publicados alguns textos nos jornais, cujos autores demonstravam profunda indignação perante realidades que eu próprio conheço. Gente credenciada tem questionado a qualidade de ensino nas universidades. Estudantes e professores queixam-se. A desordem na universidade cresce imparavelmente. As pessoas que deviam ter um papel exemplar são os piores modelos. Tudo se deteriora. O País perde.
Quando a universidade não cria condições para que seus estudantes questionem, confrontem opiniões e proponham soluções, quando isso é impossível, então devemos nos questionar. Ela devia estar na linha da frente na inovação, da criatividade, na instigação ao gosto pelo conhecimento e no desenvolvimento das capacidades intelectuais essenciais para a evolução do país. Nas actuais condições não se pode esperar nada disso.
As salas andam abarrotadas, os estudantes aprendem precisamente aquilo que a universidade não devia ensinar: a ver as questões de uma única forma. Fazem-se cópias mais do que nunca, lê-se menos. Há mais informação mas menos instrução. Aumentam-se os níveis académicos e escreve-se menos. Espera-se mais responsabilidades vê-se é balbúrdia. Quer-se democracia acha-se autoritarismo.
O retrato é este. Sombrio e desesperante.
Ângelo Bragança
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2 Comentários

2 comentários:

  1. tens razao em parte mas nao aho que na universidade deve-se falar de forma anarquica,.eu sou das ciencias sociais e acho que eh preciso partir do que ja se sabe para dai acrescentar ou refutar algo...o que acontece com os nossos colegas eh que ficam chateados quando os professores lhes cortam, porem eu nao acho essa atitude arrogante, principalmente para estudantes finalistas porque todos temos para piniao sobre algo mas quando se esta num debate partindo de uma perspectiva teorica por exemplo eh preciso que os estudantes saibam quais os pressupostos de tal teoria para dai avancar com suas opinioes,..mas o que acontece eh o contrario, nossos colegas mal se informam sobre os quadros teoricos e querem simplesmente "cuspir ideias " em sala de aula,..acho que ciencia eh diferente de opiniao publica, ciencia = teoria, objecto e metodo.

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  2. caro amigo que me antecedeu no comentário,concordo com sua opinião. Penso eu que não se está aqui a defender o estudante como não fazendo parte do problema das Universidades, mas sim está se afirmar que o centro do problema é docente, que na sala de aula vive criticando os governantes, ensina democracia, mas em contrapartida, ele é o primeiro, ditador. é incrível, alguns docentes prestam consultorias, mas nunca pararam para fazer auditoria da sua relação com o estudante.

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