segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Gosto de vender livros

Gosto de vender livros. Primeiro informo-me sobre eles, depois peço-os às editoras e distribuidoras que mos fornecem. Esta paixão torna-se cada dia maior, especialmente porque sabe bem ver, um a um, todos os livros que escolheste comprar serem vendidos. O mercado livreiro obedece hoje a uma lógica em que os bestsellers lideram os pedidos, fortemente sugeridos pelas campanhas publicitárias. Sucede que parte dos livros que encomendo não são bestsellers, não são recomendados por uma pop star ou um mediático apresentador de televisão, ou uma actriz que considera certo livro “formidável”, ou um político afamado. Compro-os porque os li e achei-os capazes de apelar e escandalizar, apaixonar e perturbar a mente do leitor, ou gerar qualquer outro sentimento que não seja o mero entretenimento. Pesa algumas vezes um receio: será que o público os receberá? Será que ao fim de um mês estará tudo vendido?
Peço-o, mesmo na incerteza. Os livros chegam, os nomes dos autores muitas vezes desconhecidos pelos visitantes da livraria (pelo menos é o que demonstram quando fazem perguntas lá) e mesmo sabendo desse desconhecimento uso do meu poder persuasivo, tento mostrar as vantagens de ler aquele livro e, quem sabe, conquisto mais um leitor para uma descoberta. Chegou-me um desses dias um leitor, para o qual me dirigi imediatamente, a fim de prestar-lhe ajuda. Disse-me que queria um livro para si. Olhei calmamente a livraria e recomendei um livro dum autor que o visitante desconhecia em absoluto. A primeira reacção foi de espanto. E o homem perguntou: tem a certeza que vou gostar deste livro? Disse-lhe que tinha. Insistiu: se não gostar volto cá para ter com o senhor. Nesse instante receei que ele não gostasse. Nunca voltou à livraria para queixar-se, o que para mim significa que gostou.
Acontecem-me dezenas de coisas destas no meu dia-a-dia. Mas dá-me alegria mesmo vender um a um, todos os livros que escolhi comprar. Especialmente os desconhecidos.
Tavares B.

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