segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Moçambique, SIDA e hábitos tradicionais


André Matola estreia-se com Moçambique, SIDA e hábitos tradicionais na produção livreira. Neste texto, a forma de abordar jornalística está presente de um modo muito típico. O essencial é o relato em torno das tendências da Sida e da preocupante relação desta com os hábitos tradicionais. Aqui temos um testemunho que, sem medos, embora sobressaltado pelos impactos da SIDA, descreve os dramas em que vivem milhares de pessoas em Moçambique.

Matola soube tirar e transformar a realidade moçambicana no que diz respeito à SIDA num texto ao mesmo instrutivo e apelativo. Para além de uma simples descrição, o sentimento de incredulidade vivida e retratada pelo autor tornam o livro de maior riqueza e instigam à uma consciencialização, ainda ausente em muitas partes do país, sobre a necessidade da prevenção e da alteração, com as devidas cautelas, de determinadas práticas ainda bastante fossilizadas que minam a luta contra a SIDA.
A SIDA continua a ser uma das doenças mais mortais em Moçambique e no mundo e a região subsaariana é das mais afectadas.
 
No prefácio do livro pode-se ler “Com este livro de estórias sobre a SIDA, André Matola retrata um drama quotidiano, por razões conjunturais mais presentes em países como Moçambique, onde já ficou demonstrada a falência e a praticidade de uma comunicação com vista à prevenção”.
A absorção consciente da informação sobre a SIDA poderia convertê-la num instrumento poderoso para fazer face à doença. E essa absorção continua a falhar. E falha também a maneira como o assunto tem sido tratado. Há dezenas de organizações no país com a intenção de alertar às pessoas sobre os mecanismos de prevenção e a assistência aos infectados, mas elas aparentemente falham no desempenho do seu papel. A reprodução da crença falsa de que reuniões e mais reuniões são em si uma solução condena-nos penosamente ao fracasso. E o problema converte-te numa banal preocupação, ofuscado pelas campanhas ineficazes e pelos modismos. A descrição do texto obedece aos modelos da tradicional escrita jornalística e, sendo jornalista, o autor soube explorar bem o seu ofício, conferindo alguma beleza a mais ao texto.
Numa edição muito limitada, aliás esgotada, Moçambique, SIDA e hábitos tradicionais actualiza um debate de relevância indesmentível.
Tavares B.

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