quinta-feira, 2 de junho de 2011

O limite da Desigualdade (O Chapa - 100)

Diariamente submete-mo-nos à circunstâncias inconvenientes sem sequer tomarmos posição alguma, porquanto, não sobra sequer espaço para tal, a promiscuidade dos desiguais é inevitável, pois o destino, o fim e o meio pelo qual se pretende alcança-los é único, com o efeito a supremacia se rende ao conformismo e a necessidade, que vem ao de cima.
Tudo inicia nas estações dos transportes semi-colectivos, vulgo “Chapa -100”, ou melhor, a cada estação “Paragem”. Aquele velho divisionismo entre as classes sociais, baixa e média parece evaporar nas horas de aperto, e o ego também vai junto. São horas a fio com os pés semeados sobre o piso infecundo da paragem, a espera de colher os respectivos frutos, neste caso “o Chapa”, e junto de nós há mais pessoas, partilhando o mesmo espaço e o mesmo objectivo, mas, parte deles ou quase todos, são desconhecidos e de diferentes castas, mas isso não é perspicaz aos olhos de quem pretende a todo o custo “matar o tempo” enquanto a lata do “Chapa” não chega. Ò, lata, pois é o que maior parte deles aparenta ser devido as péssimas condições que oferecem aos seus utentes. O único jeito de “matá-lo”, muita das vezes tem sido na conversa, palavras embrulhadas por entre a língua, no verbo suave e sorridente que por vezes ocultam o cinismo. Podem até ser falsas as intervenções concebidas nestes momentos, mas a verdade é que a fastidiosa desigualdade conhece o seu limite. Alguns intervêm porque não sabem ao certo se o local aonde se encontram, é a “Paragem” ideal para alcançarem o “Chapa” que os levará junto do destino que pretendem, outros pelo desespero da longa espera, outros, ainda, poucos, nem por isso, fazem-no apenas por simpatia.

O mais impertinente, ocorre mesmo no interior do transporte, onde a superlotação nos mantém cativos das mais baixas situações, desde a partilha do líquido concebido dos poros ao mau odor da púbis e dos exóticos perfumes dos demais. As vozes vociferam de um canto para o outro em sexo cruzado, variadas conversas, desde as intelectuais a mais baixas, desde as retóricas a pejorativas, sem ter em conta as diferentes faixas etárias nele presentes, porém, não temos opção de escolha, estamos contudo, obrigados a consentir tudo e todos, igualando-nos uns aos outros, desta feita. Terrível mesmo, é para os Trabalhadores e os Estudantes, que para além de correrem o risco de chegar ao destino “Trabalho/Escola” completamente desajeitados pelo aperto e alvoroço, correm também o risco de observarem um mau desempenho durante o dia nas actividades as quais superintendem. É este o fatídico exercício diário a que nos submetemos, mas, que por um lado, mal ou bem desencadeia o limite da desigualdade, numa “união” por um só fim, alcançar o destino.
 Stélio Paúnde (Kolapso) 
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1 Comentários

1 comentários:

  1. Eh meu caro! eu já não tenho comentário quanto este assunto, resta me apenas agir. E o que mais deixa-me frustrado, o facto de numa situação de transporte em condições obscenas, os tipos "políticos", exigirem passagem privilegiada acompanhados pelos seus campangas.Sem querer incitar nada, penso que a solução disto está em nossa posse. Até algum tempo atrás pensava que o momento das eleições, era o mais ideal, mas as evidencias me provaram o contrario, não sei porque! no momento das eleições, o povo se faz de esquecido, cego,etc. e por isso, talvez precisamos mesmo de ser como os outros,"exigir com acções concretas"

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